A segurança pública se tornou a principal preocupação dos eleitores brasileiros, alcançando um nível recorde histórico. Segundo pesquisa Quaest/Genial divulgada nesta quarta-feira (12/11), a apreensão da população com o aumento da violência mais que dobrou nos últimos doze meses, transformando o tema em prioridade absoluta para as eleições gerais do próximo ano.
Impasses políticos perpetuam crise
Enquanto a população demonstra crescente preocupação, governo e oposição mostram incapacidade de formular ou debater com racionalidade uma política nacional para a segurança pública. Os impasses sobre projetos para mudanças na legislação processual e penal evidenciam a paralisia que domina o tema.
O presidente Lula mantém há 22 anos o mesmo roteiro de culpar os Estados pelo fracasso nacional em conter a violência. Governadores aliados permanecem em silêncio, enquanto os da oposição devolvem a responsabilidade ao governo federal. Os Estados arcam com aproximadamente 85% dos custos da segurança pública, mas continuam focados no combate ao narcotráfico e milícias, com episódios de confronto que frequentemente terminam em mortes.
Falta de coordenação fortalece crime organizado
A desorganização institucional cria terreno fértil para o avanço do crime organizado. Os presídios brasileiros abrigam 660 mil detentos - 96% homens - em espaços projetados para apenas 480 mil pessoas. Foi justamente o controle desses estabelecimentos superlotados que garantiu às máfias brasileiras um lugar de destaque no mapa-múndi do crime.
Os Estados seguem desconectados dos bancos de dados nacionais operados em Brasília, que contêm informações cruciais sobre finanças, logística e conexões interestaduais das organizações criminosas. Não há coordenação eficaz e contínua com órgãos federais, muito menos entre governos e o Poder Judiciário.
Congresso opta por soluções simplistas
O Congresso Nacional trata a segurança pública há décadas pelo caminho politicamente mais cômodo: o aumento de penas combinado com maior rigidez no regime carcerário. Essa abordagem, no entanto, ignora as complexidades do problema e não enfrenta as causas estruturais da violência.
O impasse atual na política de segurança pública sugere que o Estado continuará sendo o principal fornecedor de mão de obra gratuita para organizações criminosas nacionais, como PCC e Comando Vermelho. Enquanto a classe política não superar suas divergências, a população permanecerá refém da escalada da violência.