Governador afastado do TO suspeito de obstruir investigações da PF
Governador do TO suspeito de atrapalhar investigações

O governador afastado do Tocantins, Wanderlei Barbosa, e seus aliados são investigados pela Polícia Federal por suspeita de obstruir as investigações sobre desvio de recursos públicos durante a pandemia. As novas informações constam em decisão do Superior Tribunal de Justiça que autorizou busca e apreensão contra o político.

Movimentação suspeita antes da operação

Pouco antes do cumprimento dos mandados judiciais contra Wanderlei Barbosa, a Polícia Federal recebeu denúncia sobre uma movimentação incomum em endereço ligado ao governador. Segundo as investigações, ele estaria coordenando pessoalmente a retirada de diversos itens da casa da sogra, utilizando veículos alugados pelo Governo do Estado e com apoio de policiais militares possivelmente à paisana.

A decisão do ministro Mauro Campbell, do STJ, revela que o governador teria sido informado sobre os mandados antes do seu afastamento e tentado dificultar as apurações. Conforme a denúncia, Wanderlei Barbosa, com ajuda da família e aliados, tomou conhecimento que seria alvo das ordens judiciais no dia 3 de setembro e retirou da residência da sogra, em Palmas, documentos, equipamentos eletrônicos e possivelmente dinheiro.

Estratégias para evitar monitoramento

Os policiais federais registraram diversas imagens da movimentação suspeita. O próprio Wanderlei Barbosa apareceu orientando e coordenando o transporte de caixas, malas, bolsas e mochilas, no mesmo momento em que o STJ deliberava sobre seu afastamento.

Diante da presença de policiais militares à paisana, a equipe da PF decidiu não realizar abordagem imediata, optando por acompanhar os veículos oficiais para identificar onde os objetos seriam levados. Entretanto, isso não foi possível porque os veículos realizaram manobras evasivas para se dispersarem.

Ao consultar os dados dos veículos, a PF descobriu que eram locados pelo Governo do Tocantins. A empresa responsável informou que dois veículos não tinham rastreador porque não houve liberação para instalação dos equipamentos por parte do contratante. Outros dois estavam com falha no sistema, impossibilitando o rastreamento.

Indícios de fuga às pressas

No cumprimento dos mandados na casa do governador afastado, os policiais encontraram sinais claros de que os moradores deixaram o local rapidamente. As luzes estavam acesas em um dos quartos e uma televisão permanecia ligada. O aparelho celular apresentava indícios de ter sido resetado, com o sistema restaurado para as configurações de fábrica.

Os policiais militares que faziam segurança do governador deram versões conflitantes sobre o paradeiro de Wanderlei e da primeira-dama. O casal só foi encontrado horas depois na Fazenda Santa Helena, em Aparecida do Rio Negro (TO).

Os federais que estiveram na casa da sogra identificaram que ele passou por lá através de registros fotográficos da presença de aliados e até uma bengala usada pelo político, que dias antes havia se machucado. Outro indício foi um vídeo publicado nas redes sociais por Wanderlei no mesmo dia do afastamento, onde apareciam objetos que estavam no imóvel.

Operação Nêmesis e investigações anteriores

A Polícia Federal cumpriu 24 mandados de busca e apreensão em Palmas e Santa Tereza do Tocantins na manhã de quarta-feira (12). As investigações apuram possível embaraço à investigação de desvio de recursos públicos da Covid-19 e emendas parlamentares utilizadas para compra de cestas básicas durante a pandemia.

As apurações tiveram início durante a deflagração da 2ª fase da Operação Fames-19, que afastou Wanderlei Barbosa no início de setembro por 180 dias. A primeira-dama Karynne Sotero Campos, que era secretária extraordinária de Participações Sociais, também foi afastada. Ambos negam participação nos fatos investigados.

A PF identificou indícios de que alguns investigados teriam se prevalecido de seus cargos e utilizado veículos oficiais para retirar e transportar documentos e materiais de interesse da investigação, causando embaraço às apurações que ainda se encontram em curso.

Notas das defesas

Em nota, a assessoria de Wanderlei Barbosa afirmou que ele recebeu com estranheza mais uma operação da Polícia Federal enquanto aguarda julgamento de recurso no Supremo Tribunal Federal. A nota reitera sua disponibilidade para colaborar com as investigações e mantém a confiança na justiça e nas instituições.

A primeira-dama Karynne Sotero rejeitou as acusações infundadas de tentativa de embaraço às investigações e lamentou a tentativa de intimidação contra seus familiares, incluindo sua mãe, uma senhora de mais de 75 anos que teria passado mal e precisado ser hospitalizada.

O ex-secretário de Parcerias e Investimentos do Tocantins, Thomas Jefferson Gonçalves, também investigado por supostamente alertar o governador sobre a operação, informou através de sua defesa que nunca trabalhou para causar qualquer embaraço às investigações e que sua atuação com o governador se deu apenas como secretário de Estado.