Um dos fundadores do projeto SAFiel, Maurício Chamati, integrou por sete meses o Comitê Independente de Finanças do Corinthians, entre setembro de 2024 e abril de 2025, assinando um termo de confidencialidade que agora gera questionamentos sobre o uso de informações privilegiadas.
O que diz o termo de confidencialidade
O documento, ao qual o UOL teve acesso, estabelece que o empresário se comprometeu a manter sigilo absoluto durante cinco anos sobre todas as informações recebidas durante sua participação no comitê. O acordo incluía a obrigação de proteger, devolver e até destruir dados compartilhados no âmbito do grupo.
O Comitê Independente de Finanças foi criado por Pedro Silveira, então diretor financeiro do Timão, e não teve continuidade após seu afastamento por questões de saúde em abril de 2025. No entanto, o compromisso de confidencialidade permanece válido mesmo após o fim do grupo.
Timeline do caso e surgimento da SAFiel
Em fevereiro de 2025, ainda durante sua participação no comitê, Chamati iniciou a montagem da SAFiel junto aos empresários Carlos Teixeira e Eduardo Salusse. A oficialização do projeto ocorreu apenas em 28 de outubro do mesmo ano.
A relação temporal entre as duas atividades levantou suspeitas sobre possível utilização de dados sensíveis do Corinthians em benefício do projeto da SAFiel. Fontes ouvidas pela reportagem questionam se informações privilegiadas poderiam ter sido utilizadas para estruturar a proposta.
Posicionamento do compliance e defensores
O compliance do Corinthians analisou o caso e não identificou conflito de interesse direto da empresa "Invasão Fiel S.A" com o clube. Porém, apontou bandeiras vermelhas relacionadas a Maurício Chamati individualmente.
Entre os alertas estão: relação do empresário com a Mercado Bitcoin, condenada a pagar R$ 300 milhões por golpe em 2023; Processo Investigatório Criminal por estelionato; e suposto envolvimento com o presidente Augusto Melo através de doação ao dirigente que sofreu impeachment em agosto.
Já os apoiadores da SAFiel consideram as suspeitas desproporcionais. Argumentam que termos de confidencialidade são comuns em situações de acesso a informações sensíveis e que Chamati não teve acesso a dados relevantes durante sua passagem pelo comitê.
A SAFiel, por meio de sua assessoria, emitiu nota afirmando que Chamati "nunca teve cargo ou foi remunerado por isso (participar do CIF), tampouco usou qualquer informação das poucas apresentadas fora deste fórum".