Relator da CPI do Crime Organizado rejeita ouvir faccionados sem delação
Relator da CPI rejeita ouvir faccionados sem delação

O senador Alessandro Vieira (MDB-SE), relator da CPI do Crime Organizado, tomou uma posição firme sobre a possibilidade de ouvir líderes de facções criminosas durante os trabalhos da comissão parlamentar. Em entrevista à VEJA, o parlamentar deixou claro que não dará espaço para faccionados que não estejam colaborando com a Justiça.

Posicionamento do relator

Desde que assumiu a relatoria da CPI na última terça-feira, 4 de novembro, Vieira vem sendo constantemente questionado sobre a eventual convocação de figuras ligadas ao crime organizado, especialmente o rapper Oruam. "Era sempre a mesma coisa: 'Você vai chamar o Oruam?'", revelou o senador.

O relator foi enfático ao afirmar que não acompanha a música do artista e não sabe se é boa ou ruim, mas destacou que Oruam não tem relevância para os trabalhos da CPI na condição atual. "Ouvir faccionados só faz sentido se for um arrependido, um denunciante. Nenhum desses caras é, eles continuam operando. Então eu vou dar palco para ele?", questionou.

Quem é Oruam?

O rapper Oruam, cujo nome verdadeiro é Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, é filho de Marcinho VP, uma das principais lideranças do Comando Vermelho que está preso há quase 30 anos. O artista já teve passagem pelo sistema prisional - foi preso preventivamente em julho de 2025, indiciado por sete crimes, incluindo tráfico de drogas e associação para o tráfico.

Entretanto, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) revogou a prisão em decisão liminar, argumentando que a ordem de prisão era baseada em "argumentos vagos". Apesar das questões jurídicas, Oruam mantém significativa popularidade nas redes sociais, com mais de 10 milhões de ouvintes mensais no Spotify e igual número de seguidores no Instagram.

Foco em testemunhas relevantes

Para o relator da CPI, instead de convocar personalidades ligadas às facções, é mais produtivo ouvir profissionais que lidam diretamente com a realidade do sistema prisional. "Eu quero dar palco para quem toma conta das penitenciárias", afirmou Vieira.

O senador destacou a importância de escutar agentes penais que acompanham a custódia dessas lideranças criminosas. "O policial penal tem de ser o ouvido para dizer como é difícil cuidar de um preso dessa relevância, o tamanho do medo que esse profissional enfrenta, o quanto as famílias são desassistidas. O risco é imenso", explicou.

Vieira ressaltou que esses profissionais têm conhecimento privilegiado sobre o funcionamento das facções dentro dos presídios e sobre as condições de trabalho dos agentes penitenciários, que muitas vezes enfrentam ameaças e já tiveram colegas assassinados.

A posição do relator estabelece um critério claro para os depoimentos na CPI: apenas colaboradores da Justiça e profissionais diretamente envolvidos no combate ao crime organizado terão espaço nos trabalhos da comissão, excluindo figuras que possam usar a tribuna para promoção pessoal ou para fortalecer suas organizações criminosas.