
É quase um soco no estômago. David Schürmann, aquele mesmo que cresceu navegando pelos sete mares com a família, hoje testemunha uma transformação macabra nas águas que sempre foram seu quintal. O que era azul profundo agora carrega manchas brancas flutuantes — garrafas, embalagens, sacolas — num verdadeiro tsunami de plástico.
"A gente se acostuma com as imagens na TV, mas ver de perto é diferente", me contou ele, com aquela voz que mistura cansaço e indignação. "Parece que o oceano está com catapora de tanto plástico."
Da vela ao cinema: uma missão que mudou de rumo
Schürmann, que tá finalizando "O Chamado de Darwin", um documentário que promete chocar, descreve cenas que parecem saídas de filme de terror ambiental. Tartarugas confundindo sacolas com águas-vivas, aves marinhas alimentando filhotes com tampinhas coloridas — é o retrato de um ecossistema em colapso.
E o pior? A gente nem percebe o tamanho do estrago. "O plástico não some, só se quebra em pedacinhos mínimos que invadem tudo", explica. "Virou uma sopa tóxica que a gente não enxerga, mas que está lá, envenenando a vida marinha e, no fim das contas, a gente mesmo."
O projeto que pode virar o jogo
Mas não é só de denúncia que vive a luta do navegador. Ele tá botando a mão na massa — ou melhor, na água — com o Projeto Azul, uma iniciativa que pretende mapear, conscientizar e agir. A ideia é usar a experiência de quem passou a vida no mar para criar soluções reais.
"Não adianta ficar só reclamando", diz, pragmático. "Tem que mostrar caminhos, alternativas, educar. O mar sempre me ensinou que reclamar do vento não adianta — tem que aprender a ajustar as velas."
Os números que assustam
Pra você ter ideia da encrenca:
- Cada minuto, um caminhão de lixo plástico despejado no oceano
- Até 2050, pode ter mais plástico que peixe nos mares
- Microplásticos já foram encontrados até no sal de cozinha
É de gelar o sangue. E o Schürmann enfatiza: isso não é problema de "ecochato", é de sobrevivência mesmo. "Quando o mar adoecer, a gente vai junto. Não tem escapatória."
O que a gente pode fazer?
Ele não é do tipo que só aponta o dedo. Na conversa, deu várias ideias práticas:
- Reduzir o consumo de descartáveis — canudo e copo plástico deviam ser artigos de luxo, não algo do dia a dia
- Exigir embalagens sustentáveis — as empresas seguem a demanda do consumidor, então a gente tem que demandar diferente
- Participar de mutirões de limpeza — nem que seja na praia no final de semana
"Pequenas ações, quando somadas, viram revolução", acredita. "O oceano é resistente — se a gente der uma trégua, ele se recupera."
No fim das contas, a mensagem do Schürmann é clara: ou a gente muda agora, ou vamos ter que explicar para nossos netos como conseguimos transformar paraísos azuis em lixões flutuantes. E essa, meus amigos, é uma conversa que ninguém quer ter.