Uma década se passou desde que a lama tóxica da Samarco devastou o Rio Doce, mas as águas ainda carregam as marcas do maior desastre ambiental da história do Brasil. O rio que corta Minas Gerais e Espírito Santo permanece como um paciente crônico, com recuperação lenta e comunidades que ainda esperam por justiça.
O legado de destruição que persiste
Em novembro de 2015, o rompimento da barragem do Fundão liberou milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração no Rio Doce. Dez anos depois, 663 quilômetros do curso d'água continuam afetados, desde Mariana (MG) até a foz no Espírito Santo.
"O rio ainda é um paciente grave, que precisa de cuidados intensivos permanentes", afirma o promotor de Justiça Carlos Eduardo Ferreira Pinto, que acompanha o caso desde o início.
O que mudou (e o que não mudou) em 10 anos
Embora a Fundação Renova, criada para gerir as reparações, afirme ter investido bilhões em programas de recuperação, a realidade nas comunidades ribeirinhas conta outra história:
- Água ainda não é segura para consumo humano direto
- Agricultura familiar permanece comprometida
- Espécies nativas de peixes desapareceram ou diminuíram drasticamente
- Assoreamento alterou o curso natural do rio
As comunidades que carregam o peso do desastre
Para quem vive às margens do Rio Doce, a tragédia não é uma memória distante, mas uma realidade diária. Pescadores que perderam seu sustento, agricultores que viram suas terras tornarem-se improdutivas e famílias que dependem de água mineral para sobreviver.
"A gente olha para o rio e vê que ele não é mais o mesmo. As crianças de hoje não conhecem o rio que nós tínhamos", desabafa um morador de Baixo Guandu, no Espírito Santo.
O longo caminho da recuperação ambiental
Especialistas alertam que a recuperação completa pode levar décadas. O processo envolve não apenas a descontaminação das águas, mas a reconstituição de ecossistemas inteiros, desde microorganismos até a vegetação ciliar.
Enquanto isso, o Rio Doce segue como um símbolo dos desafios ambientais do Brasil e um alerta sobre os riscos da mineração sem controles adequados.
Uma década depois, a pergunta que permanece é: quando o Rio Doce deixará de ser um paciente crônico para se tornar um exemplo de recuperação ambiental?