Uma auditoria global inédita coordenada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) revelou um cenário alarmante: nove em cada dez países não sabem quanto gastam para enfrentar as mudanças climáticas. O estudo, apresentado durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, envolveu 140 nações, incluindo potências como Estados Unidos e China.
Metodologia e alcance da pesquisa
O levantamento, batizado de ClimateScanner, foi desenvolvido pela Organização Internacional das Instituições Superiores de Controle (Intosai) sob liderança do TCU. Dos 140 países que manifestaram interesse em participar, 103 apresentaram informações através de seus órgãos de controle. A análise dos dados utilizou inteligência artificial para garantir precisão.
O presidente do TCU, Vital do Rêgo, destacou a confiabilidade do estudo: "Se o órgão de controle de cada país não for independente, nós não recebemos [informações]. Há 100% de confiabilidade no levantamento", afirmou durante conversa com jornalistas.
Principais lacunas identificadas
Os resultados mostram deficiências críticas no planejamento climático global:
- 70% dos governos têm planos insuficientes de médio e longo prazo
- 40% dos países não possuem planos efetivos de adaptação às mudanças climáticas
- 50% das nações não têm clareza sobre como reduzir emissões de gases
- 70% não possuem mecanismos adequados para monitorar progresso rumo às metas
Impactos na gestão pública
A falta de monitoramento preciso dos gastos climáticos impede que os governos saibam se estão investindo nos problemas mais críticos. Sem essa informação, torna-se impossível planejar despesas futuras de forma eficiente.
Vital do Rêgo explicou que a ferramenta permite à sociedade acompanhar o compromisso de cada país em três pilares fundamentais: governança, finanças e políticas públicas com orçamento. "A sociedade vai ter o acesso para cobrar os seus governantes em todas as esferas", afirmou.
O documento apresentado nesta quinta-feira, 13 de novembro de 2025, representa a primeira grande entrega da COP sob a liderança do TCU, que presidiu a Intosai entre novembro de 2022 e outubro de 2025.
Conclusões preocupantes
A auditoria confirma que nenhum país está totalmente preparado para enfrentar a mudança climática. Além disso, há falta de informações sobre quanto custarão as ações necessárias e como serão financiadas.
Outra conclusão significativa é que os orçamentos públicos não conseguirão arcar isoladamente com tudo o que precisa ser feito para adaptação e resiliência climática. A pesquisa servirá como um retrato metodológico da realidade de cada nação, permitindo comparações e cobranças por parte da população.
O TCU mantém expectativa de que Estados Unidos e China, que estão na lista dos 140 países, apresentem seus dados em breve. O presidente do tribunal afirmou existir uma relação "muito boa" com os órgãos de controle dessas nações.
