Nove em cada dez brasileiros afirmam já ter experimentado pessoalmente os efeitos das transformações no clima em suas regiões, segundo um levantamento recente da Quaest. O estudo, divulgado nesta terça-feira (11), revela que a esmagadora maioria da população nacional está vivenciando as consequências das alterações climáticas no dia a dia.
Os números da percepção climática
A pesquisa detalha que 94% dos entrevistados confirmaram ter sentido ao menos um efeito das mudanças climáticas. Em contrapartida, apenas 3% declararam não ter percebido nenhum impacto, enquanto outros 3% não souberam responder ou optaram por não se manifestar.
O trabalho de campo foi realizado entre 3 e 16 de julho de 2025, ouvindo 2 mil pessoas com 16 anos ou mais em todo o território nacional. A margem de erro estimada é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.
Entre os fenômenos mais citados pelos brasileiros, as ondas de calor aparecem em primeiro lugar com impressionantes 69% das menções. Em seguida, as secas prolongadas foram mencionadas por 42% da população, enquanto 35% relataram mudanças no padrão das estações do ano.
Preocupação generalizada entre brasileiros
A percepção das transformações climáticas vem acompanhada de uma significativa preocupação entre os cidadãos. Três em cada quatro entrevistados demonstraram apreensão com o tema, sendo que 44% se declararam muito preocupados e 33% afirmaram estar preocupados.
Os dados revelam ainda que 8% da população não está nem preocupada nem despreocupada, 6% estão pouco preocupados e 4% não demonstram qualquer preocupação com as mudanças climáticas. Os restantes 5% não souberam ou não responderam.
Segundo a Quaest, essa preocupação atravessa todas as faixas etárias, níveis de renda, escolaridade, regiões e ideologias políticas, mostrando que o tema unifica a nação além das divisões tradicionais.
As mulheres demonstram maior nível de apreensão: 49% delas se dizem muito preocupadas e 32% preocupadas. Entre os homens, 40% estão muito preocupados e 34% preocupados. A margem de erro para essa análise específica é de três pontos percentuais para cada grupo.
Responsabilização e contexto internacional
Os brasileiros têm opinião formada sobre quem são os principais responsáveis pelas mudanças climáticas no país. 84% da população aponta o setor produtivo - incluindo indústria, agronegócio e setor de energia não renovável - como os maiores causadores do problema.
Outros 38% consideram a sociedade de consumo em massa como principal responsável, enquanto 29% atribuem maior culpa ao governo ou poder público. Apenas 6% afirmam que nenhum desses setores tem relação direta com as mudanças climáticas ou não acreditam que elas estejam ocorrendo.
Este cenário de percepção pública ganha relevância especial com a aproximação da COP30, a 30ª Conferência das Partes da ONU sobre Mudanças Climáticas, que o Brasil sediará entre 10 e 21 de novembro em Belém, no Pará. Será a primeira vez que o evento acontece na Amazônia, reunindo líderes globais para discutir estratégias de enfrentamento às mudanças climáticas.
Para Marina Siqueira, doutora em Ciência Política e Diretora de Sustentabilidade da Quaest, os resultados mostram que os brasileiros podem ser grandes aliados no combate às mudanças climáticas. "Eles já sentem os efeitos, reconhecem as causas e demonstram preocupação", afirmou a especialista.
O estudo também destaca iniciativas locais de enfrentamento às mudanças climáticas, como o caso do Acre, que será apresentado como exemplo de inovação em governança climática durante a COP30, com potencial para atrair capital e financiar ações sustentáveis.
