Tornado no Paraná: 6 mortos e alerta climático na COP30
Tornado no Paraná deixa 6 mortos durante COP30

Enquanto líderes mundiais debatem soluções para a crise climática em Belém, um evento extremo no Paraná serve como alerta dramático da urgência do tema. Na sexta-feira, 7 de novembro de 2025, um tornado de intensidade rara devastou o município de Rio Bonito do Iguaçu, no centro-sul do estado paranaense.

O cenário de destruição

O fenômeno meteorológico deixou um rastro de destruição comparado por moradores a um bombardeio. Casas foram completamente destruídas, carros arremessados, árvores arrancadas pela raiz e postes de energia retorcidos pela força dos ventos.

Segundo o Simepar (Sistema de Meteorologia do Paraná), os ventos atingiram aproximadamente 250 km/h, com base nos danos observados. Essa intensidade classificaria o tornado como F2 ou F3 na escala Fujita, indicando um fenômeno de grande poder destrutivo.

A Defesa Civil estadual confirmou seis mortes e mais de 400 pessoas feridas em consequência do tornado. A área mais afetada, com cerca de 10 quilômetros de extensão, ficou completamente devastada.

O alerta para a COP30

Para Márcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima, a tragédia no Paraná deveria funcionar como um chamado de emergência dentro da COP30, que acontece simultaneamente em Belém.

"O que aconteceu agora na região central do Paraná, que é triste e grave, deveria mobilizar, sensibilizar — na verdade, deveria criar um ambiente de desespero mesmo, de urgência", afirma Astrini.

O especialista lembra que o evento se soma a uma sequência de desastres climáticos que vêm atingindo o Brasil e o mundo nos últimos anos, incluindo as enchentes no Rio Grande do Sul, os deslizamentos em São Sebastião e Petrópolis, e as tragédias no Norte de Minas, em Recife e no sul da Bahia.

Mudanças climáticas em foco

Caroline Rocha, diretora executiva do LACLIMA (Latin American Climate Lawyers Initiative for Mobilizing Action), explica que o tornado no Paraná exemplifica o efeito catalisador que o aquecimento global exerce sobre fenômenos naturais.

"A questão da mudança do clima não é sobre a sensação térmica que temos no dia a dia", diz Rocha. "O problema é que, quando aquecemos a atmosfera, colocamos um catalisador extra nas reações físico-químicas e biológicas, e isso gera eventos extremos cada vez mais intensos e frequentes."

Ela alerta que o que aconteceu em Rio Bonito do Iguaçu "vai se repetir em vários lugares do mundo, com muito mais frequência e impacto do que estamos acostumados a ver".

A formação do tornado resultou da combinação de ar quente e úmido vindo do Norte com uma frente fria intensa avançando pelo Sul, sob forte instabilidade atmosférica. Essa interação criou as chamadas supercélulas, nuvens de rotação violenta capazes de gerar tornados e granizo de grande porte.

O fenômeno surpreendeu até meteorologistas experientes por ocorrer em uma região onde tornados são conhecidos, mas raramente com tamanha intensidade. Segundo a MetSul Meteorologia, trata-se de um dos eventos mais intensos já observados no estado em décadas.

Desigualdade e vulnerabilidade

Caroline Rocha destaca ainda que a crise climática atua como uma lente de aumento sobre desigualdades históricas.

"A mudança do clima traz uma grande lupa para desigualdades já existentes", afirma. "As populações em situação de vulnerabilidade vão ficar ainda mais vulneráveis. E, se não acelerarmos a transição energética e a redução do uso de combustíveis fósseis, vamos continuar vitimizando justamente as pessoas que menos contribuíram para a crise que vivemos hoje."

Segundo ela, é urgente construir um mapa do caminho da transição justa, com metas claras e compromissos verificáveis. "Levamos mais de 200 anos para chegar a uma economia altamente dependente de carbono — não podemos levar outros 200 para sair dela", alerta.

O desastre no Paraná ocorre no mesmo momento em que o Brasil tenta se posicionar como liderança global na agenda climática durante a COP30. Enquanto o presidente Lula e outros chefes de Estado debatem metas de descarbonização e financiamento verde, a tragédia em Rio Bonito do Iguaçu funciona como um lembrete brutal: a transição climática precisa ser acompanhada de adaptação e resiliência local.