
Parece que o fogo resolveu escrever sua própria história na paisagem mineira. Nesta segunda-feira, 7 de outubro, a Serra de São José — aquela moldura natural que emoldura Tiradentes — acordou envolta em fumaça e desespero.
E olha, não foi pouco. As chamas começaram seu trabalho destrutivo por volta das 15h, e digo trabalho porque pareciam determinadas a consumir tudo. Os bombeiros, esses heróis de uniforme, foram acionados rapidamente, mas a natureza teimosa não facilitou.
Uma batalha contra os elementos
O vento — ah, o vento — tornou-se aliado do fogo. Soprando com certa insistência, espalhava as chamas como se fossem sementes malditas. Os brigadistas, suando a camisa, tentavam criar aquelas faixas de contenção, mas era como enxugar gelo. Ou melhor, como apagar fogo com gasolina, considerando as circunstâncias.
Até as 19h, quando escrevo estas linhas, o negócio continuava fora de controle. Uma verdadeira guerra onde o inimigo não usa armas, mas se vale de cada folha seca, cada galho ressequido pela estiagem.
O que se sabe até agora?
- O ponto inicial foi identificado numa área de mata fechada — dessas que a gente até esquece que existe, até virar notícia
- Quatro viaturas dos bombeiros estão no campo de batalha, mais aqueles caminhões tanque que parecem gigantes de aço
- A Defesa Civil entrou no páreo, coordenando os esforços como um maestro numa orquestra caótica
E sabe o que é pior? Ninguém ainda conseguiu cravar a causa do estouro da boiada. Pode ter sido uma bituca de cigarro esquecida, uma queimada que fugiu do controle, ou quem sabe — e torço para não ser — mão criminosa. A verdade é que, no momento, importa mais apagar do que apontar culpados.
O que significa a Serra de São José
Para quem não conhece, a serra não é só um amontoado de pedras e árvores. É praticamente um membro da família para os tiradentinos. Patrimônio natural que testemunhou séculos de história, desde os tempos do ouro até virar cartão postal.
Imagina a cena: aquelas encostas verdes — ou pelo menos era verde até hoje — servindo de pano de fundo para uma das cidades mais charmosas de Minas. É de cortar o coração.
Os bombeiros, coitados, devem estar com os nervos à flor da pele. Combater incêndio em área montanhosa é daqueles trabalhos que exigem mais do que equipamento — exigem alma. E coragem, muita coragem.
E agora, José?
Enquanto isso, a população fica naquele limbo entre a preocupação e a esperança. Alguns mais antigos provavelmente lembram de outros incêndios, outras batalhas contra o fogo. A natureza mineira é resiliente, mas até quando?
O certo é que a noite chegou e as operações continuam. As labaredas iluminam a escuridão como um espetáculo macabro, enquanto homens e mulheres lutam para dar um fim a essa história.
Resta torcer — e torcer muito — para que a madrugada traga alguma trégua, que o vento mude de ideia, que a umidade resolva dar as caras. Porque quando o fogo decide dançar, só resta tentar acompanhar o ritmo — ou melhor, cortar a música.