Lula Instala Conselho para Fiscalizar Reparação de Mariana: Um Novo Capítulo na Maior Tragédia Ambiental do Brasil
Lula instala conselho para fiscalizar reparação de Mariana

Finalmente, parece que as coisas começam a sair do papel. Nesta sexta-feira, 26 de setembro de 2025, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu um passo concreto – e aguardado há tempos – em direção à tão prometida reparação da tragédia de Mariana. A cerimônia no Palácio do Planalto não foi apenas um protocolo. Marcou a instalação do Conselho de Acompanhamento do Programa de Reparação, um corpo com a missão hercúlea de fiscalizar a aplicação dos recursos do acordo, que beira a casa dos bilhões.

E olha, a composição desse conselho já diz muito. Não é um grupo fechado. Reúne, lado a lado, representantes do governo federal, dos estados e municípios atingidos, das empresas envolvidas – Vale e BHP Billinton – e, ponto crucial, das comunidades afetadas e do Ministério Público. Uma mesa grande, com vozes diversas, para um problema de dimensões continentais.

O que esse conselho vai fazer, na prática?

Boa pergunta. A função vai muito além de uma reunião burocrática mensal. Ele será o olho vivo sobre a execução do terceiro acordo de reparação, aquele de 2022, que estabeleceu um cronograma de pagamentos até 2037. Estamos falando de um montante que, somando todos os acordos, ultrapassa a marca dos 50 bilhões de reais. Uma fortuna que precisa chegar a quem de direito.

O conselho vai acompanhar de perto a destinação desses recursos. Desde as indenizações para famílias que perderam tudo – alguns, inclusive, perderam entes queridos – até os projetos de recuperação da bacia do Rio Doce, que ainda sofre as sequelas daquela lama de rejeitos. A transparência, nesse caso, não é uma opção, é uma obrigação moral.

Um longo caminho desde 2015

É difícil acreditar que já se passaram dez anos. Uma década desde que o rompimento da barragem do Fundão, em Mariana (MG), despejou um mar de lama tóxica sobre distritos inteiros, soterrando vidas, sonhos e o curso natural do Rio Doce. A Samarco, controlada pela Vale e BHP, estava no epicentro do desastre. O que se viu depois foi uma batalha judicial lenta, penosa para as vítimas.

Os acordos anteriores, administrados pela Fundação Renova, foram alvo de inúmeras críticas. Muita gente reclamou de morosidade, de falta de clareza, de valores que não cobriam os prejuízos reais. Este novo conselho, portanto, surge como uma tentativa de virar a página dessa fase conturbada. Uma resposta à pressão constante dos atingidos, que não cansaram de lutar por justiça.

Lula, durante o ato, foi enfático. Disse que não se pode mais admitir que tragedies como essa fiquem impunes ou sem a devida reparação. Afirmou que o conselho é um mecanismo para "garantir que cada centavo seja aplicado corretamente". São palavras fortes, que ecoam o anseio de milhares de pessoas.

E agora, o que esperar?

O otimismo, é claro, é cauteloso. A tarefa é colossal, e o histórico não é dos mais animadores. Mas a criação deste fórum, com assento garantido para a sociedade civil, é um sinal positivo inegável. Coloca todos os atores na mesma mesa, sob o mesmo teto. Cria um canal direto de cobrança.

O próximo passo é a primeira reunião do conselho, que deve acontecer em breve. Será o momento de definir os protocolos, o ritmo de trabalho, as prioridades. Os olhos do país, especialmente dos mineiros e capixabas que vivem às margens do Rio Doce, estarão atentos. A esperança é que, dessa vez, a justiça não seja apenas uma promessa em um documento, mas uma realidade tangível para quem ainda espera reconstruir suas vidas.

Afinal, dez anos é tempo demais para esperar por reparação.