
Era para ser mais um dia de fé, de superação, daquela jornada que tantos brasileiros fazem a pé em direção ao maior santuário mariano do país. Mas o que começou como uma demonstração de devoção terminou em tragédia nas margens do Rodoanel, na altura de Ribeirão Pires.
José Roberto Alves, 54 anos — o romeiro que carregava não apenas uma mochila, mas esperanças — começou a se sentir mal durante sua caminhada solitária. Dizem que a fé move montanhas, mas às vezes nem mesmo ela é suficiente contra os limites do corpo humano.
O socorro que não chegou a tempo
Por volta das 8h desta segunda-feira, testemunhas viram o homem cambaleando. Alguém — um anjo desconhecido numa estrada movimentada — parou para ajudar. Liga para o resgate, a esperança de que tudo se resolvesse. O Samu chegou, os socorristas fizeram o que podiam, mas o coração do romeiro simplesmente parou de bater ainda no local.
É irônico, não? Num trecho de estrada por onde passam milhares todos os dias, alguém morre sozinho durante uma jornada que, em tese, nunca deveria ser solitária.
O silêncio que ficou
A Polícia Militar Rodoviária isolou a área enquanto peritos do IML realizavam os procedimentos de praxe. O corpo foi levado, a estrada liberada, a vida seguiu — exceto para José Roberto.
Ninguém sabe ao certo de onde ele vinha, para onde ia além do óbvio, quantos quilômetros já havia percorrido antes que seu corpo dissesse "chega". Essas peregrinações a Aparecida são comuns, especialmente nesta época do ano. Centenas, talvez milhares, enfrentam estradas poeirentas, sol escaldante, chuva — tudo por uma promessa, um agradecimento, uma prece.
Mas essa história me faz pensar: quantos romeiros passam por nós invisíveis todos os dias? Quantas jornadas silenciosas de fé cruzam nossas vidas sem que sequer notemos?
Um alerta para outros peregrinos
Especialistas sempre alertam sobre os riscos dessas caminhadas longas sem o preparo físico adequado. Hidratação, alimentação, pausas — detalhes que podem fazer a diferença entre a devoção e a tragédia.
O caso de José Roberto serve como um lembrete triste: a fé pode sustentar a alma, mas o corpo tem seus próprios limites. E num país onde a devoção popular muitas vezes supera o cuidado com a saúde, talvez precisemos repensar como acolhemos esses peregrinos modernos.
Enquanto isso, em algum lugar, alguém ainda caminha em direção a Aparecida. E a estrada — essa testemunha silenciosa de tantas histórias — continua esperando pelo próximo romeiro.