
Imagine acordar e, em vez do café da manhã, encontrar um mar de lama invadindo sua casa. Foi exatamente isso que aconteceu com os moradores de Santo Afonso, no Rio Grande do Sul, depois que uma obra em um dique — que deveria justamente evitar desastres — virou o pesadelo da população.
Não bastasse o transtorno, a lama trouxe consigo um cheiro insuportável e o risco de doenças. "Parece que estamos num filme de terror", reclama Dona Maria, aposentada de 68 anos, enquanto tira a sujeira com uma pá improvisada. "E o pior? Ninguém avisou que isso poderia acontecer."
Obra que virou problema
O dique, construído para conter enchentes, acabou se tornando o vilão da história. Segundo relatos, a empresa responsável pela obra não tomou os cuidados necessários — e agora a conta chegou para os moradores. A lama, espessa e grudenta, já atingiu mais de 20 casas, transformando ruas em verdadeiros atoleiros.
"É um descaso total", desabafa João, comerciante local. "A gente paga impostos pra quê? Pra ficar de pés e mãos atolados nessa bagunça?"
Autoridades prometem solução... mas quando?
Enquanto isso, a prefeitura diz que está "acompanhando a situação". Um termo tão vago que até parece piada. O secretário de Obras garantiu, em nota, que "as equipes estão trabalhando para resolver o problema o mais rápido possível". Só não disse qual é esse "possível" — dias? semanas? meses?
Enquanto o poder público se enrola em burocracias, os moradores seguem na luta. Alguns improvisaram passarelas de madeira; outros, mais desesperados, usam até baldes para tentar conter o avanço da lama. "Isso aqui tá parecendo a Idade Média", brinca — sem graça — o pedreiro Roberto.
E agora?
O que era pra ser progresso virou retrocesso. E a pergunta que fica é: quem vai pagar pelos prejuízos? As casas danificadas, os móveis perdidos, o comércio parado? Enquanto isso, a lama seca — literal e figurativamente — a paciência de quem só queria viver em paz.
Uma coisa é certa: Santo Afonso não vai esquecer tão cedo essa "obra de arte" que lhes presentearam. E o pior? Nem precisava ser assim.