
Era uma daquelas noites que parecia tranquila — até as chamas começarem a dançar. O fogo, voraz e sem piedade, devorou parte da residência centenária que já abrigou o Barão de Ceará-Mirim, um dos símbolos históricos mais queridos da região. O incidente, que aconteceu na madrugada de ontem, deixou moradores e historiadores de coração partido.
Segundo testemunhas, o fogo começou por volta das 2h da manhã, consumindo rapidamente o telhado e parte da estrutura de madeira — aquela que resistiu a décadas de sol e chuva, mas não ao descuido. Os bombeiros chegaram em 15 minutos (um tempo até que bom, considerando a distância), mas já era tarde demais para salvar o segundo andar, onde ficavam os aposentos originais do século XIX.
O que se perdeu?
Não foram apenas tábuas e tijolos que viraram cinzas. Desapareceram:
- Um lustre francês de cristal que sobreviveu à Proclamação da República
- Documentos manuscritos do período imperial (alguns nem sequer catalogados)
- Parte do piso de jacarandá, trabalho artesanal que levou três anos para ser concluído em 1887
"É como perder um parente velho", confessou Dona Maria, 82 anos, que passava toda quinta-feira para admirar a fachada. Ela não é a única — o lugar era parada obrigatória para turistas e ponto de encontro para casais de namorados.
E agora?
O Corpo de Bombeiros ainda investiga as causas (e aqui todo mundo já tem suas teorias, desde fiação antiga até aquela velha história de descuido com velas). Enquanto isso, a prefeitura prometeu "tomar providências" — aquela frase que todo mundo ouve, mas ninguém sabe exatamente o que significa.
Restaurar? Possível, mas difícil. O IPHAN já foi acionado, mas sabemos como essas coisas funcionam: burocracia, falta de verba, mais burocracia. Enquanto isso, o que sobrou da casa fica ali, entre memórias e cinzas, como um lembrete doloroso de como o passado pode desaparecer num piscar de olhos.