
Era pouco depois da meia-noite quando o pesadelo começou. De repente — sem aviso, sem explicação — labaredas tomaram conta de um dos blocos da Casa do Estudante Universitário (CEU), no bairro Alto da Glória, em Curitiba. O fogo, teimoso e rápido como gato em telhado, se alastrou feito rastilho de pólvora.
Moradores acordaram com gritos, cheiro de queimado e o barulho ensurdecedor de vidros estilhaçando. "Pensei que fosse o fim", contou um estudante de 22 anos, ainda tremendo, enquanto assistia sua república virar cinzas. "Salvei só a mochila com meus trabalhos da faculdade."
Operação de resgate
Os bombeiros — esses heróis de uniforme amarelo — chegaram em 8 minutos. Parecia pouco diante do inferno que encontraram: chamas altas como prédios de dois andares, fumaça densa o suficiente para cortar com faca. Doze viaturas, três caminhões pipa e cerca de 40 homens trabalharam por quase três horas para domar o fogo.
"Foi uma das operações mais complexas deste ano", admitiu o tenente Almeida, com a voz rouca de tanto comando. "O prédio é antigo, a estrutura já estava comprometida."
O que se sabe até agora:
- O incêndio começou por volta de 00h30
- Afetou principalmente o bloco B, com 30 quartos
- Todos os 120 residentes foram evacuados a tempo
- Não há vítimas — milagre ou sorte, ninguém sabe dizer
Enquanto isso, no pátio, cenas dignas de filme apocalíptico: estudantes abraçados, alguns descalços, outros enrolados em cobertores de emergência. A Lara, do curso de Medicina, perdeu tudo — livros, computador, até a foto da formatura do ensino médio. "Material dá pra recuperar", disse, tentando ser forte. "Mas meus resumos de quatro anos..." A voz sumiu num soluço.
E agora, José? A pergunta paira no ar mais denso que a fumaça. A prefeitura prometeu abrigo temporário, mas ninguém sabe por quanto tempo. A reitoria da UFPR emitiu nota falando em "medidas emergenciais" — burocratês para "estamos tentando resolver".
Enquanto os peritos vasculham os escombros em busca de pistas (instalação elétrica velha? Bituca de cigarro mal apagada?), os estudantes fazem contas: onde dormir hoje, como recuperar documentos, quando — ou se — poderão voltar. A solidariedade, pelo menos, não pegou fogo: vizinhos trouxeram café, pão de queijo e, o mais precioso, tomadas para carregar celulares.