
O silêncio da noite de terça-feira em Itapecerica, no coração de Minas Gerais, foi rasgado por um estampido seco e depois por gritos de agonia. Uma cena de horror doméstico, daquelas que deixam marcas permanentes numa comunidade pacata. José Gonçalves, 76 anos – um senhor que deveria estar curtindo a tranquilidade da terceira idade – lutou pela vida por quase doze horas intermináveis após uma explosão devastadora.
O que exatamente ele tentava fazer com a pólvora? Ninguém sabe ao certo, e talvez nunca venhamos a saber. O fato cru é que o material, volátil e imprevisível como sempre, reagiu de forma violenta. Não foi um simples susto ou um pequeno ferimento. Foram queimaduras de terceiro grau cobrindo nada menos que 80% de seu corpo. Uma verdadeira catástrofe de carne e osso.
Os bombeiros chegaram rápido, mas o que encontraram era de cortar o coração. Um homem irreconhecível, carbonizado, a vida escapando por entre os dedos. O resgate foi um ato de desespero e coragem, uma corrida contra um relógio impiedoso. Ele foi levado às pressas para o hospital local, mas a estrutura simples do município não tinha condições de tratar algo tão grave. A única esperança era um transferência urgente para Uberaba.
Mas esperança, às vezes, é um luxo que o destino não concede. A transferência foi autorizada, os papéis liberados, mas o corpo de José, exausto de tanto sofrer, não aguentou. Ele morreu ainda no Pronto-Socorro de Itapecerica, antes mesmo que a ambulância pudesse partir. Uma morte solitária, dolorosa e, o pior de tudo, completamente evitável.
Um Alerta que Vem das Cinzas
Este não é apenas mais um obituário. É um grito de alerta que ecoa desde o interior mineiro. Quantas vezes nós, brasileiros, subestimamos o perigo de materiais explosivos? Seja num rojão caseiro, num foguete de São João ou numa simples manipulação de pólvora, achando que "nunca vai acontecer comigo".
O Corpo de Bombeiros, cansado de ver tragédias assim, repete o mantra: manipular esses artefatos é uma roleta-russa. Não é brincadeira, não é hobby inofensivo. É uma aposta com a própria vida, e as estatísticas mostram que a casa sempre vence. A gente acha que controla a situação, mas basta uma faísca, um segundo de distração, um cálculo errado.
A família de José agora se agarra às memórias, tentando entender o vazio inexplicável que uma explosão de poucos segundos deixou para trás. Uma vida inteira, histórias, risadas… tudo reduzido a um laudo técnico e a uma notícia nos jornais locais. É de uma tristeza profunda.
Que a história do seu José sirva, pelo menos, para que outros não precisem passar pelo mesmo. Que a gente aprenda, de uma vez por todas, que alguns riscos simplesmente não valem a pena. Descansa em paz, seu Zé. Sua partida dolorosa não será em vão se salvar pelo menos uma outra vida.