
Era para ser um mês de celebração. Depois de uma vida inteira de trabalho, José Carlos Rodrigues, 62 anos, contava os dias para outubro chegar. Mal sabia ele que não veria o tão sonhado primeiro pagamento da aposentadoria.
Na última sexta-feira, por volta das 18h30, o destino pregou uma dessas peças cruéis que a gente nunca entende. José Carlos pedalava pela Avenida Beira Rio, em João Pessoa, quando um carro — ainda não identificado pelas autoridades — simplesmente o atingiu. A violência do impacto foi tanta que ele não resistiu.
O sonho interrompido
"Ele estava tão animado, sabe?" — conta Maria Silva, sobrinha de José Carlos, com a voz embargada. "Tio Zé passou os últimos meses organizando tudo para a aposentadoria. Até combinou de nos reunir pra comemorar."
Que ironia do destino, não? Trabalhar a vida toda esperando por aquele momento de descanso merecido, e justamente quando ele estava prestes a chegar... A vida simplesmente decide interromper a festa.
Um homem de rotinas simples
José Carlos era daquelas pessoas que valorizavam as pequenas coisas. O ciclismo não era apenas meio de transporte — era seu momento de liberdade, de conexão com a cidade. Vizinhos o descrevem como "aquela figura sempre sorridente, que cumprimentava todo mundo".
Ele morava sozinho no bairro de Jaguaribe, mas mantinha a família sempre por perto. Nos fins de semana, adorava receber os sobrinhos para aquele almoço domingueiro que todo mundo sabe como é: comida caseira, risadas e histórias do passado.
O vazio que ficou
Agora, a família se prepara para o que ninguém deveria passar — velar alguém que mal começava a planejar os anos de descanso. "É uma dor sem tamanho", desabafa Maria. "A gente imagina ele finalmente aproveitando a vida, e vem essa tragédia."
A Polícia Militar segue investigando as circunstâncias do acidente. Testemunhas são escassas, e o condutor do veículo não foi localizado. Mais um daqueles casos que nos fazem questionar: até quando nossas ruas serão palco de histórias truncadas assim?
Reflexão necessária
Enquanto isso, a pergunta que não quer calar: quantos outros José Carloses precisam ter seus sonhos interrompidos antes que algo mude de verdade? A avenida onde tudo aconteceu segue movimentada como sempre, mas agora carrega uma memória triste — a de um homem que apenas queria pedalar em paz, aguardando o fruto de décadas de trabalho.
Restam as lembranças. E a certeza de que outubro chegará, sim, mas sem a comemoração que deveria ter acontecido.