
O cenário é de cortar o coração. Enquanto o número geral de mortes no trânsito cai, uma tragédia silenciosa — e barulhenta — avança a todo vapor: os acidentes com motocicletas. Sim, aquelas que cortam o trânsito com agilidade agora lideram um ranking macabro.
Os números não mentem, mas assustam. Um levantamento recente do Observatório Nacional de Segurança Viária joga luz sobre um problema que virou epidemia. As motos representam nada menos que 40% de todas as indenizações pagas por acidentes de trânsito no país. Quatro em cada dez! É um dado que deveria fazer barulho.
O Perfil da Tragédia sobre Duas Rodas
Quem são as vítimas? O motofretista, claro. Aquele trabalhador que se arrisca todos os dias contra o tempo — literalmente. Pressão por entregas rápidas, jornadas exaustivas e a constante batalha por cada real. Uma combinação explosiva sobre duas rodas.
E não para por aí. Os motociclistas representam 75% dos benefícios do Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres (DPVAT) por invalidez permanente. Setenta e cinco por cento! São vidas transformadas para sempre, sonhos interrompidos por uma falha no sistema.
O Que Está Por Trás Desse Cenário Assustador?
O especialista em trânsito e diretor do Observatório, José Aurelio Ramalho, não tem dúvidas: a formação dos condutores é o calcanhar de aquiles. "O problema começa na autoescola", dispara. Ele vai direto ao ponto — a formação para motociclistas no Brasil é, na melhor das hipóteses, insuficiente.
Pensa comigo: como podemos esperar que alguém pilote uma máquina complexa com apenas 20 aulas práticas? É como aprender a nadar em uma piscina vazia. A realidade nas ruas é infinitamente mais complexa e perigosa do que qualquer circuito fechado de autoescola.
Além da Formação: Um Círculo Vicioso Perigoso
- Frota em Expansão: Cada vez mais motos invadem nossas ruas. É acessível, ágil e, aparentemente, a solução perfeita para fugir do congestionamento.
- Pressão Econômica: Apps de entrega criaram um exército de motociclistas que correm contra o relógio. Cada minuto conta, cada entrega vale.
- Falta de Estrutura: Ruas esburacadas, sinalização deficiente e motoristas de carro que, convenhamos, muitas vezes nem enxergam as motos.
Ramalho é enfático: "Precisamos rever urgentemente como formamos nossos condutores". E ele tem toda a razão. O sistema atual parece mais uma formalidade burocrática do que uma preparação real para os perigos das ruas.
E Agora? Tem Solução?
O especialista aponta caminhos. A formação precisa ser mais rigorosa, com reciclagens obrigatórias — a cada cinco anos, no mínimo. Porque trânsito não é brincadeira. É uma questão de vida ou morte, literalmente.
Mas a responsabilidade não é só do poder público. Cada um de nós — motociclistas, motoristas, pedestres — precisa fazer sua parte. Respeitar as leis, sinalizar corretamente, manter a distância... pequenos gestos que salvam vidas.
Os números estão aí, gritantes. Eles mostram uma realidade que não podemos mais ignorar. As motos conquistaram as cidades, mas a segurança ainda ficou para trás. É hora de mudar isso. Antes que mais vidas se percam no asfalto.