
Os números do Censo 2022 do IBGE chegaram e trouxeram uma daquelas estatísticas que dão nó no estômago. Em Alagoas, sabe quantas pessoas encaram a pé o trajeto casa-trabalho todo santo dia? Mais de 214 mil alagoanos. É gente pra caramba.
Parece pouco quando falamos em porcentagem — apenas 6,4% da população economicamente ativa do estado — mas cada um desses números tem rosto, história e pés cansados. A realidade é que muita gente não tem outra opção senão calçar o tênis e botar o pé na estrada.
O retrato cru da mobilidade em Alagoas
Quando você para pra pensar, a coisa fica ainda mais impressionante. Entre os 1,3 milhão de alagoanos que trabalham ou procuraram emprego durante a pesquisa, esses 214 mil que vão a pé representam um contingente maior do que a população de muitos municípios do estado. É uma multidão silenciosa nas calçadas e estradas.
O que me deixa pensativo é que, em pleno 2025, ainda estamos discutindo acesso básico ao transporte. Não é sobre conforto, é sobre dignidade no deslocamento. E olha que esses dados são de 2022 — imagino como andam as coisas hoje, com tudo mais caro.
Além dos números: as histórias por trás das estatísticas
Se você nunca precisou caminhar quilômetros para chegar ao trabalho, talvez não entenda o que esses números realmente significam. São madrugadas escuras, sol quente na cabeça, chuva molhando a roupa, sapatos gastos... É cansativo, desgastante e, muitas vezes, perigoso.
E não me venham dizer que é por opção ou saúde. A grande maioria faz isso por pura necessidade financeira — o transporte público pesa no bolso, e quando a conta não fecha, sobra para as pernas.
- Longas distâncias percorridas diariamente
- Exposição a intempéries e riscos
- Desgaste físico que compromete a produtividade
- Impacto na qualidade de vida e tempo com a família
É uma equação complicada: quanto mais você gasta com transporte, menos sobra para outras necessidades. Mas quanto mais você caminha, mais desgastado chega ao trabalho. Um ciclo difícil de quebrar.
O que esses dados nos dizem sobre nosso desenvolvimento?
Olhando de longe, até que 6,4% parece um número modesto. Mas quando você se dá conta de que estamos falando de centenas de milhares de pessoas, a perspectiva muda completamente. É como se toda a cidade de Arapiraca — a segunda maior do estado — estivesse caminhando para trabalhar.
E tem outro detalhe importante: esses são apenas os que declararam o deslocamento a pé como principal meio. Quantos mais caminham parte do trajeto e usam transporte público? A realidade provavelmente é ainda mais complexa.
Penso que esses números deveriam servir como um alerta para nossos gestores. Mobilidade urbana não é luxo — é direito básico. Enquanto tivermos tantas pessoas dependendo exclusivamente de suas próprias pernas para gerar renda, ainda temos um longo caminho pela frente. Com o perdão do trocadilho.
No fim das contas, o Censo nos mostrou mais do que números — mostrou uma realidade que muitos preferem não ver. São histórias de resistência, de perseverança, de luta diária. E cada par de sapatos gasto conta uma parte dessa história que precisamos ouvir.