
Era pra ser mais uma terça-feira comum. O sol já castigava o asfalto da PA-254, na altura do município de Itaituba, sudoeste do Pará, por volta das 6h30 da manhã. No volante do Honda Fit, azul, a professora Maria José da Silva, 54 anos – conhecida carinhosamente como 'Mazé' pelos colegas de profissão e alunos. Uma educadora dedicada, daquelas que acreditava que a sala de aula era o verdadeiro motor de mudança.
Ninguém – absolutamente ninguém – poderia prever o que aconteceria nos minutos seguintes.
De repente, o caos. Uma caminhonete Toyota Hilux, trafegando no sentido contrário, invadiu a faixa e partiu para cima do veículo da professora. O choque foi frontal, violento, daqueles que ecoa pela estrada e paralisa quem ouve o estrondo. Aço contra aço, vidros estilhaçados e um silêncio perturbador logo após.
O Corpo de Bombeiros chegou rápido, mas, infelizmente, já era tarde demais. Maria José não resistiu aos ferimentos. A gente sempre acha que essas coisas só acontecem com os outros, não é? Até que um dia, o inacreditável bate à nossa porta e leva embora alguém que faz falta.
A Caminhonete e a Fuga Inicial
E o motorista da Hilux? Sim, esse sujeito. Ele tentou fugir, sabia? Abandonou o veículo no local e saiu correndo, deixando para trás apenas a poeira e a própria consciência – se é que ele tem uma. Mas a Polícia Militar, alertada por testemunhas que ainda acreditam na justiça, foi ágil e conseguiu localizá-lo pouco tempo depois. Agora, ele responde pelo que fez.
O que se passa na cabeça de uma pessoa que, após um evento desses, pensa primeiro em se esconder em vez de prestar socorro? É um mistério que, talvez, nem a Justiça consiga desvendar completamente.
O Vazio na Educação
Maria José não era apenas mais uma no trânsito. Ela dedicava a vida a lecionar na rede municipal, moldando o futuro de centenas de crianças e jovens itaitubenses. Sua sala de aula era seu reino, e o giz, sua coroa. A Secretaria Municipal de Educação (SEMED) emitiu uma nota de pesar, um comunicado formal que tenta, em vão, dimensionar a perda irreparável. Dizem que a escola ficou de luto. Na verdade, a cidade inteira ficou.
É um daqueles dias em que o céu fica cinza mesmo com o sol a pino.
Agora, resta às autoridades investigarem os detalhes cruéis do acidente. A perícia vai apurar a velocidade, condições da pista, possível imprudência. Números e relatórios que, no fim das contas, nunca vão trazer de volta a professora Mazé. Uma vida inteira interrompida em uma manhã qualquer, numa estrada poeirenta do interior paraense.
Itaituba chora. E o Brasil, mais uma vez, se pergunta: quando é que a gente vai levar a sério a violência no trânsito?