
O que era para ser mais um dia normal no Centro Cultural Banco do Brasil de Belo Horizonte transformou-se em cena de cinema — do tipo político, daqueles que deixam todo mundo de cabelo em pé. Na última quarta-feira, uma comitiva nada discreta de vereadores invadiu o espaço cultural com uma escolta que mais parecia cena de operação policial. Guardas municipais e PMs acompanhando parlamentares em visita a exposição? Algo cheirava mal, e não era tinta de óleo.
O grupo, liderado pelo vereador Bruno Engler (PL), chegou com missão clara: exigir o fechamento imediato da exposição "Brasil, Mon Amour". A justificativa? Alegam que algumas obras "ferem valores familiares e religiosos". Engler, que parece ter trocado o papel de legislador pelo de crítico de arte radical, declarou que a mostra "faz apologia ao satanismo e à pedofilia" — acusações graves, daquelas que ecoam bem além das paredes do CCBB.
O espetáculo do poder
Imagina a cena: políticos trajando ternos caros, cercados por uniformes e armas, percorrendo salas de exposição como se estivessem em operação de guerra. Visitantes comuns olhavam perplexos, sem entender se aquilo era intervenção artística ou intervenção real. A curadoria do museu tentou explicar o contexto das obras, mas os ouvidos pareciam fechados — a mente, então, nem se fala.
"Viemos aqui para constatar in loco o que a população nos tem denunciado", afirmou Engler, enquanto seus assessores fotografavam cada obra como se coletassem evidências criminais. A ironia? Muitos dos que reclamam nem pisaram no museu para ver com próprios olhos. Receberam tudo mastigado pelas redes sociais.
Entre a arte e a política
O que mais choca nesse episódio todo não é a discordância — até porque arte existe para provocar debate — mas o método. Usar o aparato estatal para intimidar instituição cultural? Isso tem gosto amargo de censura, e mineiro conhece bem o sabor da liberdade.
Enquanto isso, do outro lado do balcão, a direção do CCBB mantém posição firme: a exposição segue em cartaz, dentro de todos os parâmetros legais. "Respeitamos as opiniões contrárias, mas não recuaremos em nossa programação artística", disseram fontes do centro cultural, preferindo não se identificar — sinal dos tempos tensos que vivemos.
O Ministério Público já foi acionado, é claro. Agora resta saber: até onde pode ir o poder de polícia sobre as artes? A linha entre moralidade e censura nunca foi tão tênue em Belo Horizonte.