PF Revela: Malafaia Instigava Bolsonaro a Desafiar Alexandre de Moraes
PF: Malafaia orientava Bolsonaro a desafiar Moraes

O buraco, como se vê, é muito mais embaixo. E as mensagens que a Polícia Federal garimpou – não sem esforço, diga-se – pintam um retrato preocupante dos bastidores do poder. O pastor Silas Malafaia, uma das vozes evangélicas mais influentes do país, não era apenas um apoiador barulhento. Segundo a PF, ele era um conselheiro ativo, um estrategista nos grupos de WhatsApp que fervilhavam com planos de confronto direto ao Supremo Tribunal Federal.

Parece ficção, mas não é. A investigação, que corre sob sigilo no STF, desvendou um emaranhado de conversas onde Malafaia vai muito além da opinião. Ele orienta, ele instiga. Em uma dessas mensagens, citada pela PF, o pastor praticamente dita o roteiro da resistência: Bolsonaro deveria, nas palavras dele, "peitar" o ministro Alexandre de Moraes. Um verbo que não deixa margem para dúvidas sobre a postura agressiva que era incentivada.

Um Quebra-Cabeça de Conflitos

O contexto aqui é tudo. A gente tá falando do auge daquela tensão insuportável entre o Planalto e o Supremo, lembra? Moraes, como ministro e presidente do TSE, tomava uma decisão atrás da outra que cortava as asas do bolsonarismo. E do outro lado, um presidente acuado, cercado por aliados que sopravam no ouvido que a hora era de briga.

Malafaia, nesse cenário, surge não como um mero espectador, mas como um personagem central nesse gabinete paralelo e informal. A PF foi categórica: a atuação do pastor foi "decisiva" para alimentar o clima de afronta às instituições. É forte, né? E olha que a defesa dele sempre negou tudo, dizendo que ele apenas exercia seu direito de opinião. Mas opinião é uma coisa, aconselhamento estratégico para um presidente da República desafiar ordens judiciais é outra completamente diferente.

O Peso das Palavras num Grupo de WhatsApp

O que mais choca a mente, pra ser sincero, é a banalidade do canal. Não foi em uma reunião secreta num bunker. Foi no WhatsApp, essa praça pública digital onde tantas crises nascem. As mensagens mostram Malafaia articulando, dando palpites sobre a nomeação de advogados, criticando a estratégia jurídica da defesa de Bolsonaro… é um nível de imersão nos detalhes operacionais que surpreende até os mais céticos.

Numa dessas, ele praticamente esbraveja contra a nomeação do ex-ministro da Justiça André Mendonça para uma ação no STF. Detalhe: Mendonça foi indicado ao Supremo pelo próprio Bolsonaro. A ironia é cruel. Malafaia duvidava da disposição de Mendonça para entrar no ringue contra Moraes. Ele queria sangue novo, alguém com mais "estômago" para a peleja.

E não para por aí. Noutro trecho, ele questiona a competência da então advogada-geral da União, e chega a sugerir que o próprio presidente assuma o microfone e faça um discurso inflamado, um verdadeiro chamado à mobilização contra o que chamavam de "autoritarismo" do STF.

É de arrepiar, a frieza com que se planejava minar a autoridade de um dos Poderes da República. Tudo isso, é bom lembrar, enquanto o país ainda tentava se recuperar dos traumas de uma pandemia e de uma crise econômica profunda.

O que isso tudo significa? Bom, pra além do processo específico, joga uma luz brutal sobre como funcionavam os mecanismos de poder no governo anterior. Mostra que a pressão vinha de todos os lados, e que figuras externas ao Palácio do Planalto tinham uma influência que, francamente, beirava o inacreditável.

Resta saber quais serão as consequências. Malafaia, por ora, nega veementemente qualquer irregularidade. Mas o relatório da PF está lá, nas mãos do ministro Alexandre de Moraes. E se tem uma coisa que a história recente nos ensinou, é que subestimar a tenacidade do STF é um erro crasso.