Premier francês pisa no freio: reforma previdenciária de Macron é suspensa para evitar crise política
França suspende reforma previdenciária de Macron

Parece que a velha máxima política de "escolher suas batalhas" acaba de ganhar um capítulo novo em Paris. Numa jogada que pegou muitos de surpresa — inclusive aliados — o premier francês Gabriel Attal decidiu suspender temporariamente a reforma previdenciária que prometia ser o calcanhar de Aquiles do governo Macron.

E olha, não foi por falta de aviso. As ruas já fervilhavam de insatisfação, os sindicatos preparavam seus trunfos e até dentro da própria base governista havia mais dúvidas que certezas. Attal, num daqueles movimentos que misturam cálculo político com instinto de sobrevivência, preferiu recuar para viver outro dia.

O jogo de xadrez político que mudou os planos

O que estava em jogo? Basicamente, a proposta — que nunca chegou a ser detalhada publicamente — mexeria com a idade mínima para aposentadoria e alteraria regras de contribuição. Coisa sensível, como se sabe. O francês médio já está com os nervos à flor da pele com inflação e custo de vida, daí ameaçar a aposentadoria... bom, era pedir para criar caso.

E cá entre nós, a situação política do governo não está nada fácil. Macron perdeu a maioria absoluta no Parlamento, e governar tornou-se um exercício diário de negociações e concessões. Alguns analistas já chamam isso de "governo minoritário disfarçado".

Os bastidores da decisão

Fontes próximas ao Palácio do Eliseu contam que a decisão veio após uma reunião tensa entre Attal e assessores diretos. O clima? Digamos que não estava dos melhores. De um lado, os técnicos insistiam na necessidade econômica da reforma. Do outro, os políticos alertavam: "É suicídio eleitoral".

No final, prevaleceu o pragmatismo. Ou seria medo? Talvez um pouco dos dois. O fato é que Attal — que assumiu há poucos meses — não quis que seu nome ficasse marcado como o premier que afundou o governo numa crise sem precedentes.

  • O governo perdeu capital político suficiente com a reforma anterior das aposentadorias
  • A base parlamentar mostrava-se dividida e relutante
  • O timing econômico e social simplesmente não ajudava
  • As pesquisas de opinião indicavam rejeição massiva

Não é todo dia que se vê um governo francês recuar assim. A tradição gaulesca costuma ser mais... digamos, teimosa. Mas a realidade impõe seus limites, e Attal parece ter aprendido a lição mais cedo que outros.

E agora, o que esperar?

A suspensão é temporária, mas ninguém sabe até quando. O que se comenta nos corredores do poder em Paris é que a reforma só voltará à pauta quando — e se — o governo recuperar fôlego político. Pode levar meses. Quem sabe até depois das próximas eleições europeias.

Enquanto isso, a oposição já esfregava as mãos. Marine Le Pen não perdeu tempo e classificou o recuo como "uma vitória do povo francês sobre teimosias tecnocráticas". Da esquerda, os comentários foram na mesma linha, ainda que com diferentes nuances.

O que me faz pensar: será que estamos vendo uma mudança no estilo de governar na França? Macron, outrora visto como o presidente-júpiter que decidia sozinho no Olimpo, agora parece forçado a negociar, recuar, adaptar-se. A era das reformas impostas a fórceps pode estar chegando ao fim.

Resta saber se essa pausa será suficiente para recuperar a confiança perdida. Porque no jogo político, como na vida, às vezes é preciso dar um passo atrás para depois... bem, para depois tentar não tropeçar no mesmo lugar de novo.