
A política brasileira parece mesmo uma novela das nove — e o capítulo de ontem no Senado Federal não decepcionou quem esperava por drama. A CPI da Previdência, que investiga supostas irregularidades no INSS, transformou-se em um verdadeiro ringue de lutas entre duas figuras centrais do processo.
Leonardo Gontijo, que comandou o INSS entre 2021 e 2022, chegou para depor com ar de quem não veio para brincadeira. Mas o que ninguém esperava era que o embate com o relator da comissão, senador Eduardo Girão (Podemos-CE), fosse escalar tão rápido para o território do confronto direto.
O momento em que tudo mudou
Era mais uma pergunta de rotina — ou pelo menos parecia ser — quando Girão questionou Gontijo sobre a participação dele em reuniões do chamado 'gabinete paralelo' durante o governo Bolsonaro. Foi aí que a ficha caiu, ou melhor, que os ânimos explodiram.
Gontijo, visivelmente irritado, disparou: "O senhor me respeite!" E não parou por aí. "Eu não vim aqui para ser desrespeitado", completou, elevando o tom de voz para deixar claro que não aceitaria o que considerava um tratamento inadequado.
O silêncio que falou mais alto
Por incríveis 25 minutos — que pareceram uma eternidade —, a sessão simplesmente parou. Os senadores presentes trocavam olhares de incredulidade enquanto Gontijo e Girão travavam um verdadeiro duelo de egos. O presidente da CPI, Otto Alencar (PSD-BA), tentou acalmar os ânimos, mas a situação já tinha passado do ponto de retorno.
Nesse interim, uma movimentação curiosa: assessores corriam de um lado para outro, sussurros se espalhavam pela sala, e a impressão geral era de que estávamos testemunhando algo extraordinário — mesmo para os padrões já conturbados da política brasileira.
As tentativas frustradas de mediação
Otto Alencar, no papel de pacificador, argumentou que "o respeito tem que ser mútuo". Mas a estratégia não colou. Girão, por sua vez, manteve sua posição: "Não retirei nenhuma palavra, presidente. O que eu disse foi que ele participou de reuniões do gabinete paralelo".
E foi aí que Gontijo soltou a frase que resume todo o clima de tensão: "Eu não aceito esse tipo de tratamento. Se for para ser assim, eu encerro meu depoimento agora". A ameaça era real, e todos na sala sabiam disso.
O adiamento e o que vem por aí
Com o impasse instalado, a única saída foi suspender a sessão. A CPI, que prometia revelações importantes sobre a Previdência Social, acabou revelando algo mais profundo: as feridas abertas do nosso cenário político ainda sangram com facilidade.
O que acontece agora? Otto Alencar marcou nova reunião para esta terça-feira, mas o clima permanece carregado. Será que Gontijo voltará à CPI? E como Girão conduzirá o interrogatório depois desse embate público?
Uma coisa é certa: o espetáculo da política brasileira continua — e ontem o público teve entrada gratuita para mais um capítulo de tirar o fôlego. Resta saber quantos episódios ainda faltam para o final dessa temporada.