
Não é segredo pra ninguém que o cenário político brasileiro anda mais conturbado que enxame de abelhas chateadas. E como sempre, os cartunistas é que sacam primeiro a ferida — e cutucam com humor ácido.
O traço certeiro de J.Caesar, publicado pela Veja, escancara o que muitos suspeitam mas poucos têm a coragem — ou a lábia — de dizer. A coisa tá feia, gente. E não é pouco.
O que a charge mostra — e o que ela esconde
Mais do que riso, a charge provoca um incômodo. Aquele tipo de coceira mental que não some com coçar. Através de traços aparentemente simples, Caesar consegue condensar dramas complexos em uma única imagem. E olha, a imagem é forte.
Não vou spoilar tudo — até porque metade da graça tá em ver com os próprios olhos —, mas digamos que os personagens em cena não saem ilesos. Longe disso.
Um retrato sem retoques
É impressionante como um desenho pode dizer mais que discurso de duas horas. E o pior — ou o melhor — é que a mensagem chega na hora, sem enrolação. Quem tá por dentro das tretas políticas recentes vai sacar na hora as referências. Quem não tá, ainda assim vai sentir o clima de… bom, de caos organizado.
E não me venham dizer que é exagero. Quem acompanha os noticiários sabe que a realidade, às vezes, até supera a sátira.
Por que isso importa?
Pode parecer só um desenho, mas não é. É termômetro. É protesto mudo. É um espelho held up to society, como diriam os gringos — e um espelho que, muitas vezes, a gente não tem muita vontade de encarar.
Charge boa é assim: mexe com a ferida, provoca debate, e de quebra ainda arranca uma risada — mesmo que seja daquelas amarelas.
E cá entre nós: num país onde a política virou entretenimento (trágico, mas ainda assim…), trabalhos como o de J.Caesar são mais que bem-vindos. São necessários.
No fim das contas, a charge de agosto não é só mais uma. É um recado. E recado dado, recado entendido — ou pelo menos deveria ser.