Não é todo dia que uma charge consegue sintetizar tão precisamente o clima político nacional. J.Caesar, com seu traço certeiro e humor ácido, entregou nesta terça-feira (29) uma daquelas pérolas que doem porque são verdadeiras.
O que temos aqui? Basicamente um retrato implacável da desconexão entre o discurso oficial e a realidade que bate na porta do brasileiro. E olha, a realidade está batendo forte.
Os cinco pilares da crise de credibilidade
Caesar focou em cinco áreas onde o governo parece estar literalmente falando sozinho:
- Economia que não engrena: Enquanto o Planalto fala em crescimento, quem vai ao mercado sabe que o dinheiro vale menos a cada semana
- Segurança pública: O conto do 'país mais seguro' enquanto notícias de violência dominam o noticiário
- Relações internacionais: Aquele abraço em ditadores que não abraçam ninguém de volta
- Inflação: O monstro que teoricamente estava domado, mas insiste em assombrar o prato do dia a dia
- Narrativa versus realidade: O abismo entre o que é dito nos microfones e o que é vivido nas ruas
É como se o artista tivesse pegado um telescópio, apontado para Brasília e captado exatamente o que acontece quando o discurso perde o contato com o chão.
O timing perfeito (e cruel)
O que mais impressiona? A charge chega num momento onde pesquisas mostram que a confiança no governo está em… bem, digamos que não está nas alturas. E não é por falta de tentativa de comunicação.
O Palácio do Planalto parece ter montado uma máquina de produzir narrativas. Só esqueceu de avisar que narrativa não enche barriga nem paga conta.
E cá entre nós: quando você precisa insistir tanto que está tudo bem, é porque provavelmente nada está bem. É a velha história do 'quem muito fala, pouco acerta'.
O humor como termômetro político
Charge política boa é assim: machuca porque acerta. E J.Caesar acertou em cheio. Sua arte funciona como um espelho que devolve ao governo a imagem que ele teima em não ver.
Não se trata de ser contra ou a favor. Trata-se de perceber que quando o humor político afia suas garras, geralmente é porque há muito material para trabalhar.
O mais curioso? Enquanto o governo investe em complexas estratégias de comunicação, um desenho de poucos traços consegue comunicar mais que horas de pronunciamentos.
Talvez porque, no fundo, todos sabemos que há certas verdades que só o humor tem coragem de dizer.
