
Parece que o circo pegou fogo, e os palhaços principais são justamente aqueles que ditam as regras do jogo digital. Um relatório sigiloso, destinado a ouvidos importantes em Washington, escancara um nível de insatisfação das grandes empresas de tecnologia com o Brasil que beira o surreal.
Não se trata apenas de um desabafo corporativo qualquer. O documento, elaborado para a Comissão de Comércio Internacional dos Estados Unidos (USITC), funciona como uma verdadeira lista de despejo contra as principais instituições brasileiras. O Supremo Tribunal Federal (STF), a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o Congresso Nacional e até mesmo o sistema de pagamentos instantâneos PIX estão na mira dos executivos.
O tom é de exasperação. A sensação que fica é a de que as Big Techs, acostumadas a operar em ambientes mais… maleáveis, se veem encurraladas por um emaranhado de regras e decisões judiciais que, na visão delas, travam a inovação e o crescimento. É uma gritaria generalizada, um coro de frustração que ecoou diretamente para os órgãos reguladores norte-americanos.
Os Alvos Preferenciais da Crítica
O relatório não poupa ninguém. Cada instituição recebe sua dose de críticas, com argumentos que variam entre o técnico e o francamente político.
- STF: O Grande Vilão? O Supremo é pintado como um entrave monumental. As decisões da corte, especialmente aquelas relacionadas a liberdade de expressão, privacidade de dados e regulação de plataformas, são retratadas como imprevisíveis e, pior, contrárias aos interesses comerciais dessas companhias. Há uma clara irritação com a autonomia do Judiciário brasileiro, que não se curva facilmente aos argumentos corporativos.
- Anatel: A Reguladora 'Intrometida' A agência setorial também leva sua porção de farpas. Aparentemente, a visão de que o setor de telecomunicações e internet deve ter regras claras e supervisionadas não agrada a todos. A Anatel, ao fazer seu trabalho, é vista como um obstáculo a ser contornado.
- Congresso Nacional: A Lentidão que Incomoda O processo legislativo brasileiro, naturalmente lento e cheio de idas e vindas, é outro ponto de atrito. Projetos de lei que interessam às empresas ficam anos tramitando, enquanto outras propostas, vistas como ameaçadoras, parecem ganhar fôlego – criando um ambiente de incerteza que tira o sono de qualquer CEO.
- O PIX: Um Inimigo Inesperado Talvez a queixa mais reveladora seja a dirigida ao PIX. O sucesso estrondoso do sistema de pagamentos brasileiro, uma criação do Banco Central, parece ter causado um misto de inveja e preocupação. Ele é citado como um exemplo de… concorrência desleal? Ou talvez de como uma solução pública pode ser mais eficiente que propostas privadas. A menção ao PIX entre as reclamações é, no mínimo, curiosa e diz muito sobre os temores dessas corporações com a soberania tecnológica nacional.
O que isso tudo significa? Bom, vai muito além de um simples registro de insatisfação. Esse relatório é uma jogada de poder. Ao formalizar essas queixas perante um órgão dos EUA, as Big Techs buscam pressionar o governo americano para que, por sua vez, pressione o Brasil. É uma tentativa clara de influenciar a política externa comercial de Washington em seu favor, usando o acesso ao mercado brasileiro como moeda de troca.
O caso joga um holofote brutal sobre a tensão permanente entre a soberania nacional e os interesses globais de corporações com poder econômico que rivaliza com o de muitos países. O Brasil, ao que parece, decidiu não ser um jogador passivo nesse tabuleiro. E isso, claro, está deixando alguns gigantes extremamente irritados. Resta saber qual será o próximo movimento nesse xadrez de alta tecnologia.