
Eis que o crime organizado resolveu dar um upgrade tecnológico assustador em Belém. Não satisfeitos com as táticas usuais, bandidos do bairro do Guamá — uma área notória pela violência — instalaram um sistema próprio de câmeras de monitoramento. A finalidade? Espionar a polícia.
Pois é. A inversão de papéis foi tão absurda que parece roteiro de filme. Enquanto o estado patina na segurança pública, a marginalidade investe em infraestrutura de vigilância. As câmeras foram estrategicamente posicionadas em pontos de acesso ao território dominado pelo tráfico. Tudo para avisar com antecedência a chegada das viaturas.
Medo e silêncio na comunidade
Os moradores, é claro, estão entre a cruz e a espada. Sabem de tudo, mas falar? Nem pensar. O clima é de medo puro, daqueles que cala até o mais corajoso. Quem viu, quem soube, prefere fingir que não está nem aí. E não os culpo — afinal, arriscar a vida por um furo de reportagem não vale a pena.
A Polícia Civil, por sua vez, confirmou a existência do esquema. Dois pontos de filmagem já foram identificados e neutralizados. Mas desconfiam que há mais. “É uma tentativa clara de obstruir nosso trabalho”, disse um delegado que preferiu não ter o nome divulgado — até entre autoridades o receio é real.
Não é só filmagem, é estratégia
O que mais choca não é só a ousadia, mas a sofisticação. Não se trata de um celular escondido ou um olheiro avisando. É um sistema fixo, pensado, instalado com planejamento logístico. Quem diria que o crime investiria em TI antes que o poder público, hein?
E os alvos não são aleatórios. As câmeras miram justamente as rotas de aproximação usadas pela polícia. Rua de fuga, beco, entrada de comunidade — tudo vigiado. Quem comanda isso não é amador. Tem cheiro de organização.
Enquanto isso, a população segue refém. Uns com medo dos bandidos, outros desconfiados da própria lei. E no meio, uma pergunta que não cala: até onde vai a criatividade do crime?