IA gera gargalo na construção de data centers com custos 10% maiores
IA causa gargalo em data centers com custos 10% maiores

A corrida desenfreada pela implementação de inteligência artificial está revelando sérios gargalos na cadeia global de construção de data centers, segundo um estudo recente da consultoria Turner & Townsend. O relatório 2025-2026 Data Centre Construction Cost Index, publicado em 19 de novembro de 2025, identifica este momento como um ponto de virada histórico para o setor.

O impacto financeiro da IA na construção

A pesquisa, que ouviu especialistas globais do setor, revela um cenário de ceticismo alarmante: 83% dos entrevistados não acreditam que as cadeias de suprimentos atuais estejam preparadas para fornecer a tecnologia avançada de resfriamento necessária para data centers de IA.

A transformação técnica traz consigo um significativo impacto financeiro. A análise demonstra a existência de um "prêmio de IA" associado a essas novas construções, com custos de construção entre sete e dez por cento mais altos quando comparados a data centers tradicionais resfriados a ar de capacidade similar.

Kamila Lima, diretora de Real Estate da Turner & Townsend no Brasil, explica que este aumento está diretamente ligado às exigências energéticas e de resfriamento. "Quando nós vamos para data centers para inteligência artificial, nós precisamos de resfriamento líquido, e por conta disso, a tecnologia se faz necessária e aí os custos automaticamente aumentam", afirmou a executiva.

Desafios energéticos e de infraestrutura

Além dos desafios na logística de equipamentos de resfriamento, o estudo aponta que a disponibilidade de energia representa o principal obstáculo para a entrega de projetos dentro do prazo. A demanda por eletricidade para o setor de data centers, que atualmente consome cerca de 1% da demanda global, tende a aumentar significativamente devido à expansão da IA.

No contexto brasileiro, o país se consolidou como o principal hub de data centers da América Latina, concentrando aproximadamente 40% dos investimentos regionais. Cidades como São Paulo e Campinas emergem como os principais polos para desenvolvimento hyperscale e colocation.

Contudo, Kamila Lima ressalta que o desafio nacional não está na escassez de energia, mas na infraestrutura: "O principal desafio ligado à energia no Brasil é justamente a infraestrutura. Que muitas vezes, para ter a ligação de alta e média voltagem para esses data centers, a gente demanda de uma infraestrutura até a sua chegada".

Soluções e perspectivas futuras

Para superar o ceticismo da cadeia de suprimentos e os gargalos energéticos, o relatório da Turner & Townsend recomenda que os desenvolvedores inovem no design e fortaleçam as estratégias de aquisição. O trabalho no projeto se mostra vital, considerando que data centers são equipamentos de "missão crítica" que exigem sistemas complexos e redundâncias para garantir operação permanente.

A chave para eliminar atrasos está na gestão antecipada da cadeia, com foco especial nos equipamentos de grande porte — geradores, transformadores e sistemas de resfriamento líquido — que possuem longos prazos de entrega e frequentemente dependem de importação.

"Temos trabalhado muito com essas empresas para inclusive desenvolver o mercado local, e possibilitar que esses equipamentos sejam feitos, fabricados no Brasil e não somente importados, que é o que muitas vezes acontece", complementou Lima.

A diretora reforça que a proatividade é essencial para que o Brasil mantenha sua liderança competitiva, especialmente porque, embora os custos de construção aqui sejam menores (US$ 10,75 por watt, contra US$ 15,2 de Tóquio), o desafio central reside em garantir a prontidão técnica.

"O Brasil tem escala e ambição para liderar a transformação dos data centers para IA na América Latina. Mas, para manter o ritmo, os desenvolvedores precisam fortalecer estratégias de compras, investir em resiliência da cadeia de suprimentos e enfrentar a questão da disponibilidade de energia com soluções inovadoras", concluiu Kamila Lima.