Um casal de aposentados de Maringá, no norte do Paraná, decidiu reescrever a própria história após anos de dedicação profissional. Renato Cardoso Machado, de 72 anos, e Lúcia Moreira Machado, de 68, trocaram a correria do trabalho pela liberdade das estradas brasileiras, transformando uma van em sua casa sobre rodas.
Da ideia à realidade: o nascimento do primeiro motorhome
A paixão por viagens sempre existiu, mas foi em 2020 que o plano ganhou forma concreta. A inspiração veio de um dos dez netos do casal, que, após assistir a vídeos na internet, sugeriu a aventura. Renato, que dedicou sua vida à veterinária e ao serviço público, abraçou a ideia, mas com uma condição: era preciso conforto mínimo, com teto alto e banheiro.
Após pesquisas, encontraram o veículo ideal em Santa Catarina. Foi o próprio Renato quem projetou e executou todas as adaptações internas. A primeira casa móvel foi uma Kombi de teto alto, batizada de Kathita, que os levou à Serra Catarinense na viagem inaugural. A iniciativa, no entanto, surpreendeu os quatro filhos do casal.
"Os filhos, a princípio, acharam que era uma maluquice", conta Lúcia, que trabalhou com administração. "Eles duvidavam que essa ideia ia para frente, mas foi um sucesso. Aí todo mundo se entusiasmou". Hoje, a família torce e vibra com cada nova aventura dos pais.
A evolução para a Kathita II e a vida minimalista na estrada
Após cinco anos de estradas com a Kombi, o casal deu um novo passo. No início de 2024, venderam a Kathita e adaptaram uma van que antes era usada em sua loja de móveis rústicos. Assim nasceu a Kathita II, mais equipada e preparada para longas jornadas.
O motorhome é uma verdadeira casa compacta e autossuficiente:
- Placas solares no teto geram energia para eletrodomésticos.
- Possui cama de casal, TV, frigobar, fogão, pia e armários.
- O banheiro completo tem chuveiro, pia e vaso sanitário com compartimento químico.
- Um aquecedor a gás fornece água quente e um botijão de 13 kg completa a infraestrutura.
Essa estrutura exigiu uma mudança profunda no estilo de vida. "Passamos a ter um conceito mais minimalista", explica Lúcia. "Menos bagagem, levar só o que é necessário. Fazer economia de água também... a gente foi se educando e nos ajustando". As compras são feitas em supermercados locais e todas as refeições são preparadas dentro do veículo.
Liberdade, planejamento e o novo estilo de vida
Para Renato e Lúcia, a maior vantagem do motorhome é a liberdade absoluta. Embora façam um planejamento prévio, a facilidade de levar a casa junto permite mudanças de rota a qualquer momento, seja por vontade ou por condições climáticas.
"Você vai para onde você quer, não depende de passagem, não depende de reserva", argumenta Lúcia. "Você muda o trajeto, você não tem dia nem uma hora marcada para chegar, nem para sair. É a liberdade em apreciar qualquer lugar".
A segurança, no entanto, não é negligenciada. Renato, o motorista oficial, prefere viajar durante o dia. À noite, estacionam em postos de combustíveis confiáveis ou campings. O veículo passa por revisões periódicas e os contatos dos filhos estão sempre à mão para qualquer emergência.
Desde que começaram, o casal já percorreu cidades de Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e do próprio Paraná. Agora, preparam-se para cruzar a fronteira e chegar a Ushuaia, na Argentina, considerado o fim do mundo.
Além de paisagens deslumbrantes, a jornada trouxe novas amizades e uma nova perspectiva. "Você abre mão do supérfluo e passa a viver só com o que é realmente essencial", destaca Lúcia. Para quem tem o sonho de seguir um caminho similar, Renato dá um conselho direto: "Não pode ficar só imaginando... Basta ter coragem e não deixar o medo vencer". A estrada, para eles, se tornou mais do que um caminho: é um novo estilo de vida.
