Proibição não impede crescimento explosivo dos vapes no Brasil
Um estudo alarmante revela que o consumo de cigarros eletrônicos no Brasil aumentou 600% entre 2018 e 2023, apesar da proibição da comercialização desses dispositivos estar em vigor desde 2009. A pesquisa foi conduzida por especialistas da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual de Ohio, nos Estados Unidos.
Os números mostram que aproximadamente 3,1 milhões de brasileiros utilizam exclusivamente cigarros eletrônicos, enquanto outros 8 milhões fazem uso combinado com produtos de tabaco tradicionais. Os dados foram publicados na segunda-feira, 10 de novembro de 2025, no periódico científico The Lancet Regional Health – Americas.
Mercado ilegal em expansão
Os pesquisadores alertam que o uso generalizado desses dispositivos é sustentado por um próspero mercado ilícito que burla os controles regulatórios. O estudo identificou que muitos dos produtos comercializados são dispositivos falsificados que imitam marcas conhecidas, mas carecem de padrões básicos de segurança e origem rastreável.
"O uso e a disponibilidade generalizados de cigarros eletrônicos são resultado de um próspero mercado ilícito que burla os controles regulatórios, inundando o mercado com cigarros eletrônicos não autorizados – e potencialmente ainda mais perigosos", afirmam os pesquisadores.
A facilidade de acesso é comprovada por uma investigação governamental que identificou 1.822 anúncios ou contas ilícitas em redes sociais oferecendo cigarros eletrônicos. Além disso, os vapes são vendidos abertamente em diversos pontos de venda, desde bancas de jornal até tabacarias, sem qualquer tipo de fiscalização efetiva.
Esforços de fiscalização e riscos à saúde
Embora a Receita Federal tenha intensificado as apreensões – confiscando quase 2 milhões de unidades em 2024, avaliadas em aproximadamente R$ 1,1 bilhão, um aumento de 57% em comparação com 2023 – os especialistas afirmam que é preciso fazer mais, especialmente no controle das fronteiras internacionais.
Do ponto de vista da saúde pública, a situação é ainda mais preocupante. A oncologista Clarissa Baldotto, presidente eleita da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, é enfática: "O vape não é inofensivo, nem representa uma alternativa segura ao cigarro convencional".
"Diversos estudos já demonstraram que os compostos presentes nos cigarros eletrônicos podem causar mutações genéticas associadas ao câncer de pulmão. É preocupante ver jovens e adultos sendo expostos a um produto cuja toxicidade é evidente, mas cuja regulação ainda é negligenciada", completa a especialista.
Lições internacionais e caminhos possíveis
O estudo sugere que o Brasil pode aprender com experiências bem-sucedidas em outros países. Na Europa, por exemplo, a proibição de anúncios e a inserção de alertas de saúde nas embalagens ajudou a reduzir significativamente o uso desses dispositivos.
Já nos Estados Unidos e no Canadá, o aumento do preço dos dispositivos e a proibição do uso em lugares públicos têm desencorajado parte dos usuários. Essas medidas mostram que, embora a proibição total não tenha sido eficaz sozinha, uma combinação de estratégias pode trazer resultados positivos.
Os pesquisadores concluem que o Brasil precisa tratar o cigarro eletrônico como uma questão urgente de saúde pública, desenvolvendo políticas mais eficazes para combater o mercado ilegal e proteger a população, especialmente os jovens, dos riscos comprovados desses dispositivos.