
Numa daquelas iniciativas que aquecem o coração e mostram que ainda há esperança no serviço público, a Polícia Civil do Rio de Janeiro fez algo que vai muito além de prender bandido. Na última segunda-feira, quem passava pelo Hospital Municipal Raul Sertã, em Nova Friburgo, pôde testemunhar uma cena que deveria ser rotina, mas que infelizmente ainda é exceção.
Chegaram carros oficiais, sim, mas não era busca por criminosos. Desta vez, as viaturas traziam algo muito mais precioso: caixas e mais caixas de medicamentos essenciais para pacientes que dependem exclusivamente do SUS.
Solidariedade que vem das delegacias
O que pouca gente sabe — e é uma pena que não se fale mais sobre isso — é que a Polícia Civil mantém um programa discreto, porém fundamental, de reaproveitamento de medicamentos apreendidos em investigações. Em vez de deixar esses remédios vencerem em algum depósito poeirento, eles são direcionados para onde realmente fazem falta.
"Quando a gente vê esses medicamentos indo para as mãos de quem precisa, dá uma sensação de dever cumprido que vai além do trabalho convencional", comentou um delegado que preferiu não se identificar. Ele tem razão — às vezes, salvar vidas não significa apenas combater o crime, mas também estender a mão para quem precisa.
O impacto no dia a dia do hospital
Para o Dr. Marcelo Fonseca, que trabalha no Raul Sertã há mais de uma década, doações como essas são como um sopro de ar fresco em meio à rotina desgastante do sistema público de saúde. "Tem dias que a gente quase desiste, sabe? Aí chega uma ação dessas e renova nossas energias", confessou o médico, visivelmente emocionado.
Os remédios doados — e aqui é importante destacar — não são quaisquer remédios. São medicamentos de uso contínuo, daqueles que pacientes crônicos simplesmente não podem ficar sem. Hipertensão, diabetes, problemas cardíacos... condições que, sem o tratamento adequado, podem se transformar em tragédias anunciadas.
- Antihipertensivos para controle da pressão arterial
- Medicamentos para diabetes e controle glicêmico
- Drogas para tratamento de condições cardíacas
- Analgésicos e anti-inflamatórios essenciais
Parece básico, mas para quem depende do SUS, às vezes o básico é luxo.
Uma parceria que deveria ser modelo
O que me faz pensar: por que iniciativas como essa não são mais comuns? Afinal, todos sabemos que há medicamentos apreendidos acumulando poeira em delegacias por todo o país. Enquanto isso, hospitais públicos vivem aquele desespero silencioso de ver prateleiras vazias e pacientes sem receber o tratamento adequado.
O superintendente da Polícia Civil na Região Serrana, Alexandre Tadeu, foi enfático: "Essa não é uma ação isolada. Queremos institucionalizar essa ponte entre o que sobra nas investigações e o que falta na saúde pública". Tomara que outros regionais sigam o exemplo — a população agradece.
Enquanto isso, nas enfermarias do Raul Sertã, a diferença prática já é sentida. São vidas sendo preservadas, dores sendo aliviadas e — quem diria — esperança sendo renovada através de um simples gesto de humanidade.