
O programa Mais Médicos, criado em 2013, sempre foi um divisor de águas na saúde pública brasileira — e a participação de profissionais cubanos nessa iniciativa gerou debates acalorados. Mas como exatamente funciona essa colaboração? Vamos desvendar os meandros dessa parceria que, diga-se de passagem, não é tão simples quanto parece.
Um pouco de contexto (porque nada começa do zero)
Lá em 2013, quando o Brasil tava com um déficit absurdo de médicos em regiões remotas — quem mora no interior sabe como é —, o governo federal decidiu importar mão de obra qualificada. Cuba, com seu exército de profissionais formados em medicina social, surgiu como peça-chave nesse quebra-cabeça. Só que... tem um detalhe: os cubanos não vinham diretamente pro Brasil. Na verdade, eram "emprestados" pelo governo cubano através da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).
Os números que impressionam
Nos primeiros cinco anos do programa:
- Mais de 18 mil médicos cubanos passaram pelo Brasil
- Atenderam em mais de 3.500 municípios
- Cobriram especialmente áreas indígenas e periferias urbanas
Não dá pra negar — esses profissionais fizeram a diferença onde o SUS mais precisava. Mas a coisa toda tinha um porém...
O contrato polêmico
Aqui começa a parte espinhosa. Os médicos cubanos recebiam apenas parte do salário — a outra fatia ia direto para os cofres do governo de Cuba. Segundo relatos, ficavam com cerca de 30% do valor pago pelo Brasil. Justo? Bom, isso virou um debate interminável entre defensores e críticos do programa.
E tem mais: os contratos eram temporários, sem vínculo empregatício fixo. Quando o programa mudou de mãos em 2018, muitos cubanos tiveram que voltar pra casa — deixando um vácuo em postos de saúde pelo país afora.
O que mudou recentemente?
Com a volta do Mais Médicos em 2023, a participação cubana ressurgiu, mas com novas regras. Agora:
- Os profissionais podem ficar com 100% do salário
- O vínculo é direto com o governo brasileiro
- Exige-se revalidação do diploma em alguns casos
Parece um avanço, né? Mas ainda tem muita gente torcendo o nariz — de um lado e de outro.
Impacto na ponta do lápis (e do estetoscópio)
Pra quem duvida da eficácia do programa, os números falam por si só. Municípios que receberam médicos cubanos viram:
- Redução de até 40% nas filas por especialistas
- Aumento de 25% no número de consultas pré-natal
- Queda significativa em internações por condições tratáveis
Mas claro, nem tudo são flores. A barreira linguística e cultural às vezes complicava a relação médico-paciente — principalmente em comunidades tradicionais.
No final das contas, o Mais Médicos com participação cubana foi — e continua sendo — uma solução imperfeita pra um problema crônico. Como diz o ditado: "Mais vale um médico cubano na mão do que dois brasileiros voando"... ou seria o contrário?