
Imagine acordar todos os dias com flashes de luz invadindo sua visão — como se alguém estivesse tirando fotos dentro dos seus olhos. Foi assim que o Dr. Rafael Mendes*, cirurgião geral de 37 anos, viveu por meses após ser brutalmente agredido na UPA onde trabalhava.
"O primeiro soco veio por trás, nem vi quem era", conta ele, ainda com a voz embargada. "Quando caí no chão, foram mais três ou quatro golpes na região dos olhos. Só ouvia os gritos dos colegas tentando intervir."
Consequências que ninguém vê
O que parecia ser "apenas" um olho roxo revelou-se um descolamento de retina traumático — lesão grave que exigiu duas cirurgias de emergência. "Passava dias enxergando manchas escuras que do nada viravam clarões cegantes", desabafa. "Tive que aprender a aplicar injeções no próprio olho, quatro vezes ao dia."
E não foram só os olhos que ficaram marcados:
- 3 meses afastado do trabalho
- Terapia para lidar com crises de ansiedade
- Medo crônico de atender pacientes agressivos
O lado oculto da violência hospitalar
Enquanto isso, na recepção da UPA, o relógio marcava 2h47 da madrugada — horário em que 73% das agressões ocorrem, segundo o Conselho Federal de Medicina. O agressor? Um homem de cerca de 30 anos, irritado pela espera no atendimento.
"Temos protocolos para violência entre pacientes, mas quando a ameaça vem contra nós...", suspira a enfermeira chefe Mariana Campos, que testemunhou o caso. "Naquela noite, três profissionais pediram demissão."
*Nome alterado por solicitação do entrevistado