Médica se recusa a atender paciente em Bauru e expõe crise de salários atrasados na saúde pública
Médica se recusa a atender em Bauru por salários atrasados

Imagine chegar a uma unidade de saúde precisando de atendimento urgente e se deparar com uma cena dessas. Foi exactamente o que aconteceu numa UBS do Jardim Redentor, em Bauru, nesta quinta-feira (28). Uma médica, cansada de esperar por pagamentos que simplesmente não vinham, tomou uma decisão drástica.

Ela se recusou a atender uma paciente. Ponto final.

Não foi por falta de ética ou má vontade – longe disso. A profissional alegou, com uma frustração palpável no ar, que está há meses sem receber seu salário. Três meses, para ser mais exacto. Como alguém espera que um profissional trabalhe de graça? A pergunta que fica no ar, ecoando pelas paredes da unidade.

A gota d'água

O caso veio à tona depois que a paciente, claro, não aceitou o não como resposta. Ela decidiu gravar tudo – porque hoje em dia, se não está nas redes sociais, parece que não aconteceu mesmo. No vídeo, a tensão é clara. A médica explica, numa voz entre o exausta e o revoltada, a situação dos servidores da saúde.

"A gente tá há três meses sem receber. Não tem condições", diz ela, enquanto a paciente rebate: "Mas a senhora é médica, tem que atender!". Um impasse clássico entre o direito de quem precisa do serviço e o de quem precisa sobreviver para poder prestá-lo.

E do outro lado?

A Prefeitura de Bauru, através da sua secretária de Saúde, Deise Ferreira, não ficou calada. Ela confirmou o atraso – sim, é verdade – mas já adiantou que os pagamentos estão a caminho. Segundo ela, os salários de agosto serão quitados ainda esta semana, e os de julho? Bem, esses entram na semana que vem.

Mas e junho? Ah, junho vai ficar para Setembro. Uma verdadeira salada de meses e promessas que, convenhamos, não ajuda em nada a confiança de quem está na linha de frente.

Deise ainda tentou minimizar a situação, dizendo que a médica não era "efetiva" da prefeitura, e sim uma cooperada. Como se isso mudasse a obrigação de pagar pelo trabalho realizado. O contrato com a cooperativa? Venceu em junho, mas foi prorrogado até dezembro. Só esqueceram de combinar a parte dos pagamentos em dia, aparentemente.

O problema é mais fundo

O que aconteceu em Bauru não é um caso isolado. É o retrato de um problema crónico que assombra a saúde pública Brasil afora. Profissionais sobrecarregados, subvalorizados e, agora, sem receber. Até quando?

A tal médica, no final das contas, acabou atendendo a paciente. Mas o estrago já estava feito. A crise saiu das paredes da UBS e foi parar no celular de meio mundo. E a pergunta que não quer calar: quantos outros profissionais estão na mesma situação, engolindo sapo e trabalhando na base do amor à profissão?

Enquanto isso, a prefeitura promete, os servidores esperam, e a população torce para não precisar do SUS num dia de greve não declarada.