
Imagine sua vida pendurada num fio de espera. Pois é exatamente assim que se sentem as 1.037 pessoas que, neste exato momento, aguardam por um transplante no Rio Grande do Norte. Um número que não é só estatística - são vidas concretas, histórias interrompidas, famílias inteiras segurando a respiração.
Desse total angustiante, pasmem: 816 estão na fila por um rim. Sim, você leu direito - oitocentas e dezesseis almas dependendo de um gesto de generosidade alheia para continuarem vivas. E não para por aí: 125 esperam por córnea, 53 por fígado, 18 precisam desesperadamente de um coração novo, 14 de medula óssea e até 11 aguardam por um pâncreas.
O peso dos números
Os dados da Central de Transplantes do RN, atualizados até esta segunda-feira (1º), pintam um quadro dramático. E olha que 2024 já tinha sido duro - terminaram com 1.010 potiguares na espera. Agora, setembro chegou e com ele o 'Setembro Verde', campanha que tenta conscientizar sobre a importância da doação.
Falando nisso, o estado registrou 92 doadores efetivos até agosto. Parece muito? Quando se converte em vidas salvas, o número ganha outra dimensão: 409 transplantes realizados. Mas a matemática é cruel - a fila só aumenta.
Como mudar esse jogo?
O processo começa com uma conversa franca em família. Porque sim, a doação só acontece com autorização dos familiares, mesmo que a pessoa tenha manifestado em vida a vontade de doar. É preciso ter essa conversa desconfortável, esse pacto de amor.
E se você pensa que é complicado se registrar como doador, desengana. Basta um documento de identidade oficial com foto e CPF no posto de saúde mais próximo. Simples assim. Ou então pelo aplicativo Conecte SUS, na seção 'Minha Saúde'.
Os tipos de doação? Vão desde a doação em vida (quando não prejudica a saúde de quem doa) até a doação após a morte cerebral ou parada cardíaca. Cada caso é um caso, cada gesto importa.
O que pode ser transplantado?
- Coração (em caso de morte encefálica)
- Pulmão (também por morte encefálica)
- Fígado (morte encefálica ou doador vivo)
- Rim (morte encefálica ou doador vivo)
- Pâncreas (apenas morte encefálica)
- Córnea (só em caso de morte)
Enquanto isso, a fila não perdoa. Cada dia que passa é uma batalha contra o tempo para essas milhares de pessoas. E a pergunta que fica: será que a gente poderia fazer mais? A resposta, tenho certeza, está dentro de cada um de nós.