Anvisa permite dentistas prescrever Mounjaro para apneia
Dentistas podem prescrever Mounjaro para apneia

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tomou uma decisão que está gerando debate no meio médico brasileiro. Em outubro de 2025, a agência reguladora ampliou as possibilidades de prescrição do medicamento Mounjaro (tirzepatida), permitindo que cirurgiões-dentistas receitem o fármaco para tratamento da apneia obstrutiva do sono em pacientes com obesidade.

Mudança na bula amplia acesso

A alteração ocorreu quando a Anvisa expandiu a bula do Mounjaro, que já era aprovado para diabetes tipo 2 e obesidade, para incluir a indicação em casos de apneia obstrutiva do sono. Como a odontologia também atua no diagnóstico e acompanhamento da apneia, a interpretação técnica passou a permitir que dentistas prescrevam o medicamento quando a condição está associada à obesidade.

O Conselho Federal de Odontologia (CFO) apoia a medida, argumentando que a prescrição é prerrogativa do cirurgião-dentista quando o medicamento está indicado dentro da área de atuação da odontologia, conforme previsto na Lei 5.081/66.

Posições divergentes entre profissionais

Entretanto, a Associação Médica Brasileira (AMB) defende que a prescrição da tirzepatida deve permanecer restrita aos médicos. Luciana Rodrigues Silva, 1ª vice-presidente da entidade, afirma que medicamentos de uso sistêmico exigem formação específica, especialmente quando envolvem riscos clínicos e necessidade de acompanhamento de comorbidades.

O endocrinologista Bruno Halpern, vice-presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), compartilha da mesma preocupação. Ele ressalta que a obesidade é uma doença complexa e que o medicamento deve ser receitado por profissionais que entendam profundamente da condição.

Preocupação com banalização do tratamento

Halpern também expressou preocupação com o crescimento de prescrições inadequadas no tratamento da obesidade, um problema que vai além da odontologia. "Tudo que envolve banalização é ruim", declarou o especialista em suas redes sociais, destacando que o Mounjaro não é um produto estético, mas um remédio que pode ajudar muitas pessoas quando usado corretamente.

Base científica da aprovação

A farmacêutica Eli Lilly, fabricante do Mounjaro, recebeu a aprovação da Anvisa para uso no tratamento da apneia obstrutiva do sono no final de outubro de 2025. O ensaio clínico que embasou a decisão envolveu 469 participantes de diferentes países, incluindo o Brasil, todos com diagnóstico de obesidade.

Os resultados mostraram que, comparado ao placebo, o Mounjaro foi cerca de cinco vezes mais eficaz, reduzindo em média 27 interrupções respiratórias por hora. Entre os participantes que usavam CPAP (tratamento padrão para apneia) e incluíram o medicamento, a queda chegou a 30 interrupções por hora.

Halpern reforça que o ponto central é que a indicação da tirzepatida para apneia está diretamente ligada ao tratamento da obesidade, exigindo manejo especializado. Os resultados dependem da perda de cerca de 20% do peso corporal, e o medicamento foi estudado apenas em pessoas com obesidade e apneia moderada ou grave.

O CFO, por sua vez, orienta que a prescrição seja feita com autonomia, mas de forma responsável e com acompanhamento multidisciplinar, em paralelo com outros profissionais como médicos endocrinologistas ou especialistas em obesidade.