Câncer é principal causa de morte por doenças em Piracicaba
Câncer lidera mortes por doenças em Piracicaba

Um estudo recente do Observatório de Oncologia trouxe um dado alarmante para a saúde pública de Piracicaba, no interior de São Paulo. O câncer se tornou a principal causa de morte por doenças na cidade em 2023, representando um quinto de todos os óbitos por enfermidades registrados no município.

Cenário local e nacional

De acordo com o levantamento, 21% das mortes por doenças em Piracicaba foram provocadas por neoplasias no ano passado. Este cenário se repete em outras 669 cidades brasileiras, configurando um aumento significativo de 29,8% em relação a 2015, quando 516 municípios registravam o câncer como principal causa de morte por doenças.

O médico oncologista André Moraes, da Santa Casa de Piracicaba, explica que este fenômeno está diretamente relacionado ao aumento da expectativa de vida da população e à maior quantidade de centros de referência no tratamento oncológico nas regiões Sul e Sudeste.

Fatores por trás do crescimento

Os números nacionais mostram uma tendência preocupante. Entre 1998 e 2023, as mortes por câncer aumentaram 120%, enquanto os óbitos por doenças cardiovasculares cresceram 51%. Isso significa que a mortalidade por neoplasias avança 2,3 vezes mais rápido do que as doenças do aparelho circulatório.

No estado de São Paulo, a situação é particularmente relevante: 68 municípios têm o câncer como principal causa de morte por doenças. O estudo revela ainda que 76% das cidades com esse perfil estão nas regiões Sul e Sudeste, as mais desenvolvidas do país.

Nina Melo, coordenadora de pesquisa do Observatório de Oncologia, destaca os tipos mais letais: pulmão, mama, cólon e pâncreas. Ela explica que o câncer de pulmão, apesar de não ser o mais incidente, é o mais fatal devido à falta de métodos de rastreamento eficazes.

Demografia e fatores de risco

O perfil das vítimas em São Paulo mostra que 76% das mortes por câncer ocorrem em pessoas com 60 anos ou mais, sendo mais da metade dos pacientes do sexo masculino. Especialistas apontam que o envelhecimento populacional, o controle de outras doenças e o aumento de fatores de risco como tabagismo, obesidade e sedentarismo estão entre as principais causas do avanço da doença.

Apoio aos pacientes e familiares

Em Piracicaba, o Centro de Apoio e Prevenção ao Câncer e Doenças Degenerativas (Ceacan) oferece suporte essencial para pacientes encaminhados pelos hospitais e unidades de saúde. O local proporciona acolhimento emocional, social e orientações sobre tratamento.

Fernando Silva, coordenador do Ceacan, ressalta a importância do apoio familiar: "A gente cuida do paciente, mas principalmente da família. Muitas vezes, a família fica mais doente do que o paciente, porque não sabe por onde começar".

História que reflete a realidade

A aposentada Célia Canetto Bertazzoni vivenciou pessoalmente o impacto da doença. Seu marido, Pedro, faleceu em abril deste ano, aos 76 anos, vítima de um câncer na garganta. "Descobrimos através da voz dele, que começou a ficar muito rouca. Foram oito biópsias até receber o diagnóstico de câncer", relata Célia.

Ela conta que o marido fez radioterapia durante muitos anos e chegou a receber alta, mas posteriormente a doença se espalhou por todo o corpo. "Ele me deixou dois filhos e três netos lindos. É disso que tiro forças para sobreviver", compartilha a aposentada.

O oncologista André Moraes finaliza com uma reflexão importante: "O número de diagnósticos de câncer tende a aumentar no mundo inteiro, porque a longevidade é maior". Esta realidade exige cada vez mais investimentos em prevenção, diagnóstico precoce e tratamentos adequados para enfrentar o desafio que o câncer representa para a saúde pública brasileira.