
Era pra ser só mais um dia quente no oeste paulista, mas o mosquito-palha decidiu escrever outro capítulo trágico. Dessa vez, a vítima foi um morador de Andradina — a segunda fatalidade por leishmaniose visceral no estado este ano. Não bastasse o calor de derreter, agora a população precisa ficar de olho nos sintomas que parecem gripe, mas podem ser muito piores.
Segundo a Secretaria de Saúde, o caso foi confirmado depois de semanas de investigação. "A gente sabia que o risco aumentava nessa época do ano", comenta uma agente de saúde que prefere não se identificar. "Mas ver acontecer de novo... dói na alma."
Sinais que enganam
Febre que não passa, fraqueza, emagrecimento rápido — parece pouco, até você descobrir que seu baço está aumentando feito balão. A doença, que ataca cães e humanos, avança sorrateira. E o pior? O inseto transmissor adora quintais com folhas úmidas e lixo orgânico. Ou seja: terreno perfeito no interior.
Enquanto isso, na Regional de Saúde de Araçatuba (que cobre Andradina), os técnicos estão de cabelo em pé. "Tivemos 17 casos humanos em 2024 na região", revela um boletim recente. "E a letalidade chega a 8%." Números que fazem qualquer um arrepiar.
Prevenção ou loteria?
O protocolo é conhecido: telas nas janelas, coleiras repelentes nos cachorros, vistoria semanal no quintal. Mas no calorão de 40°C, quem aguenta ficar caçando folha seca? "Aqui em casa a gente até tenta", diz Dona Maria, aposentada da Vila Operária. "Mas o vento traz, o vizinho não limpa... é uma luta."
Para piorar, os sintomas iniciais — aquela febre chata, cansaço — são campeões de confusão. "Pensei que era virose", conta o filho de uma vítima da doença em 2023. "Quando descobrimos, já estava com o fígado comprometido."
Enquanto as autoridades reforçam as ações de controle (com direito a nebulização e campanhas porta a porta), os moradores seguem naquele misto de preocupação e resignação. Afinal, no interior de São Paulo, entre a seca e os mosquitos, a vida pulsa — mas nem sempre como a gente quer.