Como filmes de terror reduzem ansiedade: 3 tipos de fãs explicados
Filmes de terror podem acalmar a ansiedade, diz estudo

Assistir a filmes de terror pode parecer contra intuitivo para quem busca relaxamento, mas pesquisas científicas revelam que o gênero oferece benefícios surpreendentes para a saúde mental. Um estudo recente mostra como a exposição controlada ao medo pode ajudar a reduzir a ansiedade e melhorar nossa capacidade de lidar com situações difíceis no mundo real.

O paradoxo do terror: por que buscamos o medo?

Quando tinha 16 anos, o escritor David Robson viveu uma experiência que muitos podem se identificar: uma sessão de cinema caseira de O Exorcista (1973) que o deixou aterrorizado. Enquanto seus amigos se divertiam, ele passou duas horas com as mãos cobrindo os olhos, sem entender como alguém podia encontrar entretenimento em algo tão assustador.

Esta contradição intriga filósofos e psicólogos há séculos. Aristóteles já comentava sobre o fenômeno há mais de 2.300 anos, questionando por que somos atraídos por coisas que naturalmente evitaríamos. Afinal, o medo é uma resposta evolutiva que nos protege de perigos, desencadeando a reação de lutar ou fugir.

Mas o pesquisador Mark Miller, das universidades Monash (Austrália) e Toronto (Canadá), explica que o "paradoxo do terror é um enigma muito antigo". Mesmo sabendo que devemos evitar situações perigosas, ficamos magnetizados por histórias repugnantes e aterrorizantes.

Os três tipos de fãs de terror

O psicólogo Coltan Scrivner, da Universidade Estadual do Arizona, dedicou sua carreira a estudar este fenômeno. Em seu livro "Morbidly Curious: A Scientist Explains Why We Can't Look Away", ele identifica três perfis principais de consumidores de terror:

Dependentes de adrenalina: Este grupo busca a sensação física do suspense e declara que o medo os faz sentir "mais vivos". Eles genuinamente apreciam as sensações intensas proporcionadas pelos filmes.

Os apavorados: Eles não gostam necessariamente da sensação de medo, mas sim da experiência de superá-lo. Scrivner explica que "eles sentem que o processo os ajudou a aprender algo importante sobre si mesmos".

Negociadores sombrios: Para este grupo, os filmes são uma forma de enfrentar a vida real. Eles usam as histórias para observar como o mundo é violento e para lembrar que suas vidas são seguras em comparação com o que veem na tela.

Scrivner descobriu esses padrões através de um estudo com 400 participantes que responderam questionários online sobre seus hábitos de consumo de filmes de terror. A pesquisa foi replicada com sucesso na Dinamarca, na Casa Mal-Assombrada Dystopia, confirmando que os três tipos aparecem em diferentes culturas e contextos.

Benefícios psicológicos comprovados

As histórias de terror interagem com processos cerebrais fundamentais que nos ajudam a lidar com incertezas. Mark Miller compara o cérebro a um "motor de antecipação" que constrói constantemente simulações do mundo ao nosso redor.

Através do processamento preditivo, nosso cérebro interpreta novos eventos e planeja reações adequadas. As histórias de terror fornecem a incerteza necessária para manter este mecanismo em atividade, refinando nossas simulações e melhorando nossa capacidade de prever ameaças futuras.

Durante a pandemia de COVID-19, Scrivner descobriu que os fãs de terror demonstraram maior resiliência psicológica. Eles eram mais propensos a concordar com afirmações como "acompanhei as notícias sobre a pandemia com naturalidade" e "acredito na minha capacidade de superar estes tempos difíceis".

Terror como ferramenta terapêutica

Scrivner sugere que as histórias de terror poderiam ser incorporadas à terapia psicológica para ensinar as pessoas a enfrentar situações difíceis. Pesquisadores holandeses já utilizaram um princípio similar no tratamento de crianças com ansiedade.

Eles desenvolveram um videogame chamado MindLight, ambientado em uma casa mal-assombrada onde monstros perseguem o avatar do jogador. A criança usa um aparelho de encefalografia que mede sua atividade cerebral e controla uma luz na cabeça do personagem.

Quanto mais tranquila a criança permanece, mais brilhante fica a luz. Se conseguir manter o relaxamento durante um ataque, o monstro se transforma em um gatinho adorável. Testes clínicos mostraram que crianças que jogaram regularmente tiveram redução significativa da ansiedade no dia a dia.

Scrivner afirma que "o conteúdo de entretenimento de terror permite que as pessoas vivenciem o medo em um ambiente seguro e controlado", oferecendo oportunidade para praticar a reavaliação cognitiva e tolerar experiências desconfortáveis.

Para quem quer experimentar os benefícios do terror mas é sensível ao gênero, Scrivner recomenda começar com livros, onde é possível controlar melhor a imaginação, e buscar histórias que se relacionem com outros interesses pessoais, já que o terror é um dos gêneros mais amplos que existem.