Bebê morre aguardando cirurgia cardíaca em Palmas: família exige respostas e justiça
Bebê morre esperando cirurgia cardíaca em Palmas

Era pra ser o primeiro de muitos sorrisos. Mas o pequeno Miguel — nome fictício para preservar a família — partiu antes mesmo de completar quatro meses de vida. O coraçãozinho que mal começara a bater não resistiu à espera interminável por uma cirurgia cardíaca na Maternidade Dona Regina, em Palmas.

"A gente virou noites em claro, rezando pra vaga sair", conta a avó, Maria (57), com a voz embargada. "Tinha dias que ele ficava roxinho de tanto se esforçar pra respirar. Os médicos diziam que era prioridade, mas a fila... a maldita fila não andava."

O sistema que falhou

Segundo relatos da família, o bebê nasceu com tetralogia de Fallot — uma combinação rara de quatro defeitos cardíacos. Condição grave, mas tratável com cirurgia precoce. Só que...

  • A vaga prometida para julho foi adiada três vezes
  • O estado não possui centro cirúrgico especializado
  • Os leitos de UTI pediátrica na região estão 98% ocupados

Na última terça-feira, Miguel teve uma crise fatal durante mais uma transferência emergencial. "Chegou a chover quando enterramos ele", diz o pai, pedreiro desempregado. "Até o céu chorou nossa injustiça."

O grito que ecoa

Enquanto isso, na Secretaria de Saúde do Tocantins, o silêncio pesa. A reportagem tentou contato por 12 horas — nada de posicionamento oficial. Já no Ministério Público, prometem "apurar com rigor".

"Isso aqui não é caso isolado", dispara a defensora pública Ana Lúcia Reis. "Só este ano, 17 bebês tocantinenses morreram na fila da cardiopediatria. Quando vão acordar?"

Enquanto burocratas discutem protocolos, na periferia de Palmas, um berço vazio balança ao vento. E um relógio de parede — presente de natal não dado — marca horas que nunca mais virão.