Lichia: 5 benefícios da fruta de fim de ano e como consumir sem perder nutrientes
Lichia: nutrientes e benefícios da fruta da ceia

Com a chegada do final de ano, uma fruta de casca rugosa e polpa doce ganha destaque nas mesas brasileiras: a lichia. Mais do que um simples enfeite para ceias e sobremesas, este alimento de dezembro carrega uma combinação valiosa de nutrientes que pode contribuir para a saúde, desde que consumida da forma correta.

O que a lichia tem de especial?

De acordo com Camila Carvalho, nutricionista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, a composição da lichia é um dos seus pontos fortes. A fruta é formada principalmente por água e carboidratos simples, com baixos teores de proteínas e gorduras.

O verdadeiro tesouro, porém, está nos micronutrientes. A lichia é uma excelente fonte de vitamina C, fornecendo entre 65 e 75 mg a cada 100 gramas consumidas. Essa quantidade representa uma grande parte da ingestão diária recomendada desse nutriente essencial.

Além da vitamina C, a fruta também oferece potássio, cobre e pequenas doses de vitaminas do complexo B. Outro destaque fica por conta dos compostos bioativos com ação antioxidante, como os polifenóis, flavonoides (quercetina e epicatequina), proantocianidinas e ácido gálico.

Comparações e cuidados no consumo

Em uma análise comparativa, a lichia se sai bem. O nutrólogo Andrea Bottoni, também do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, aponta que, em porções de 100 gramas, a fruta possui mais vitamina C do que a laranja. No entanto, ele faz um alerta importante: a comparação serve para entender o perfil nutricional, mas não deve ser uma regra.

Cada fruta tem suas características próprias, e o que realmente faz diferença para a saúde é uma alimentação balanceada e variada. A lichia, por exemplo, tem menos fibras do que a manga e a laranja e contém uma quantidade maior de açúcares naturais, o que exige atenção ao tamanho da porção.

Seu índice glicêmico é considerado moderado. Para pessoas com diabetes, o consumo é possível, mas deve ser controlado e, idealmente, combinado com fontes de proteína ou gordura para reduzir o impacto glicêmico após a refeição.

Forma de consumo faz a diferença

Como consumir a lichia para aproveitar ao máximo seus benefícios? A nutricionista Lara Natacci, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (SBAN), explica que a vitamina C é sensível ao calor, à luz e ao oxigênio. Portanto, o consumo in natura é a melhor forma de preservar os nutrientes.

O congelamento da fruta é uma boa alternativa quando a versão fresca não está disponível, pois as perdas nutricionais costumam ser pequenas. Já o suco de lichia apresenta algumas desvantagens: além de reduzir o já baixo teor de fibras, facilita o consumo de uma quantidade maior de fruta de uma só vez, concentrando os açúcares. O processo de preparo e armazenamento também acelera a perda de vitamina C.

Quando transformada em doces, caldas ou sobremesas açucaradas – preparações típicas da época –, o cenário muda ainda mais. Natacci esclarece que, embora boa parte dos compostos fenólicos e antioxidantes seja mantida, a densidade calórica aumenta significativamente com a adição de açúcar, enquanto o teor de vitamina C diminui.

Benefícios reais e expectativas equilibradas

Estudos científicos sugerem que a lichia pode contribuir para a função imunológica, graças ao seu alto teor de vitamina C, e ter efeitos positivos na saúde cardiovascular, associados aos seus compostos fenólicos antioxidantes. Há também indícios de impacto positivo sobre a microbiota intestinal.

Contudo, Bottoni ressalta que esses efeitos dependem do padrão alimentar geral. Consumir duas lichias após uma refeição pesada e gordurosa não vai "compensar" os excessos.

Lara Natacci finaliza desfazendo um mito comum: não há respaldo científico para tratar a lichia, ou qualquer outro alimento isolado, como um produto "milagroso" que emagrece, desintoxica ou melhora a imunidade sozinho. Compostos bioativos estão presentes na maioria das frutas, legumes e verduras.

O segredo, portanto, está no conjunto: uma alimentação equilibrada, variedade no prato e hábitos de vida saudáveis. Dentro desse contexto, incluir a lichia na dieta pode ser, sim, uma escolha saborosa e nutritiva – especialmente em dezembro, quando ela está no seu melhor.