
Imagine um mundo onde substâncias como LSD e psilocibina não são apenas toleradas, mas usadas para tratar depressão, PTSD e até mesmo o medo da morte. Parece ficção científica? Pois Rick Doblin, um ex-hippie de cabelos grisalhos e sorriso fácil, está transformando essa visão em realidade — e com um pé na ciência e outro na política.
De Woodstock aos laboratórios
Nos anos 70, enquanto a maioria dos hippies trocava suas ideias revolucionárias por carreiras convencionais, Doblin fazia o caminho inverso. "Eu era o típico jovem que via os psicodélicos como ferramentas de transformação", conta ele, entre risos que lembram alguém que já viu coisas que a maioria de nós nem sonha.
Mas aqui está o pulo do gato: ao invés de ficar preso no misticismo, ele mergulhou de cabeça na ciência. Fundou a MAPS (Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies) em 1986 — sim, quando falar sobre isso era quase um convite para problemas com a lei.
O jogo virou
Três décadas depois, o que parecia uma utopia hippie virou pauta séria em universidades de ponta e até no FDA americano. "É surreal", admite Doblin, "ver estudos que comprovam o que a gente intuía nos anos 60".
- 2017: FDA designa MDMA como "terapia inovadora" para PTSD
- 2020: Oregon legaliza terapia com psilocibina
- 2023: Austrália aprova psicodélicos para tratamento médico
Não é sobre ficar chapado — é sobre desbloquear a mente. "A diferença entre remédio e veneno está na dose e no contexto", filosofa Doblin, com a sabedoria de quem já viu os dois lados da moeda.
O Brasil nesse tabuleiro
Enquanto países avançam, o Brasil ainda patina no debate. "É cultural", analisa Doblin. "O mesmo país que tem ayahuasca como patrimônio cultural trata outras substâncias como demônio."
Mas há esperança: pesquisas na USP e UNIFESP começam a explorar o potencial terapêutico — ainda que a passos mais lentos que uma tartaruga com bota de chumbo.
O sonho de Doblin? "Que daqui a 20 anos, as pessoas vão rir ao lembrar que essas substâncias eram ilegais." E olha, considerando como a maré está virando, ele pode não estar tão errado.