Um movimento importado do inglês está transformando a rotina de quem pratica exercícios físicos no Brasil. Sob o termo recovery, ou recuperação, agrupam-se diversas técnicas e dispositivos que têm como objetivo principal otimizar a restauração do organismo após sessões de treino mais intensas. A ideia central é que, para obter bons resultados e manter a consistência, não basta apenas se exercitar: é fundamental cuidar da recuperação do corpo.
O que são os métodos de recovery e por que estão em alta?
Os protocolos de recovery reúnem desde práticas conhecidas, como os banhos de gelo (crioterapia), até tecnologias mais recentes, como botas pneumáticas de compressão e sessões específicas de liberação miofascial. Esses recursos, antes restritos a atletas de alto rendimento, agora são procurados por um público amplo, que busca atenuar dores, reduzir a fadiga e melhorar o desempenho geral.
O crescimento desse mercado anda lado a lado com a expansão da prática de atividade física no país. Estima-se que mais de 40% da população brasileira já se exercite regularmente, de acordo com dados da consultoria Brain Inteligência e Estratégia. Com mais pessoas se movimentando, aumenta também a demanda por soluções que auxiliem na recuperação pós-esforço.
Das clínicas aos parques: onde encontrar os serviços
As técnicas já estão disponíveis em clínicas de fisioterapia, academias e até em locais públicos. Em São Paulo, por exemplo, profissionais oferecem serviços na área de recovery no Parque Ibirapuera, ponto conhecido pela concentração de esportistas. A crioterapia, que viralizou nas redes sociais, é uma das estratégias mais famosas, promovendo um choque térmico com o objetivo de estimular a reorganização muscular.
Além dos banhos gelados, o cardápio de recovery pode incluir a terapia de contraste (que intercala sauna e imersão em água fria), massagens para liberação da fáscia muscular e o uso de equipamentos de compressão que ativam a circulação sanguínea nas pernas.
O mercado se adapta e a tecnologia entra em cena
A indústria está atenta à tendência. Fabricantes de wearables, como smartwatches, aproveitam para destacar funções de monitoramento de saúde que ajudam no planejamento e na recuperação dos treinos. A Nike deu um passo além e lançou sua primeira bota de recovery, que aquece, comprime os músculos e visa reduzir o cansaço. O produto custa cerca de 900 dólares nos EUA (aproximadamente 4.800 reais) e ainda não é vendido oficialmente no Brasil.
Para quem não quer investir em equipamentos próprios, clínicas especializadas são uma opção. A Kontrast, em São Paulo, é um exemplo. Segundo Alexandre Liuzzi, sócio-fundador do espaço, a procura pela terapia de contraste só aumenta. “As pessoas estão mais conscientes de que o autocuidado vai além do treino e da alimentação”, afirma ele.
A visão da ciência e os cuidados necessários
Apesar da popularidade e dos relatos positivos de bem-estar, especialistas fazem ponderações importantes. O nível de evidência científica para algumas técnicas, como a crioterapia e a compressão, ainda não é considerado robusto para a recuperação muscular do público em geral, sendo mais indicadas para atletas profissionais.
Ramires Tibana, professor de educação física da Universidade Federal de Mato Grosso, ressalta esse ponto. Uma revisão de 99 estudos sobre o impacto das técnicas de recovery na redução da dor e da inflamação muscular concluiu que os efeitos são discretos. Nessa análise, as massagens se saíram melhor.
Seja por um efeito psicológico ou físico, os especialistas concordam que o resultado é potencializado quando a indicação é personalizada e há acompanhamento de um profissional capacitado. E, acima de tudo, lembram que nenhum protocolo de recovery substitui os pilares clássicos: um planejamento de treino adequado, com intervalos entre dias intensos e leves, e, principalmente, as horas de descanso merecidas. Esse cuidado, fundamental para qualquer praticante de atividade física, nunca sai de moda.
Publicado originalmente na edição de 5 de dezembro de 2025 da revista Veja.