Remédio de Alto Risco: Como a Justiça Pode Estar Sabotando a Saúde no Brasil
Como a Justiça pode estar sabotando a saúde no Brasil

Não é segredo que o sistema de saúde brasileiro vive um turbilhão de desafios. Mas o que pouca gente discute é como algumas decisões judiciais estão virando um verdadeiro jogo de roleta russa com a vida dos pacientes.

Imagine só: um remédio que nunca passou por testes rigorosos, liberado por uma liminar, sendo distribuído como se fosse bala de goma. Parece roteiro de filme B, mas é a realidade que está batendo na porta dos postos de saúde.

O X da Questão

O cerne do problema? A tal da judicialização da saúde. De um lado, pacientes desesperados por qualquer esperança de cura. De outro, um sistema judiciário que, com boas intenções (ou não), acaba abrindo as portas para tratamentos duvidosos.

"É como dar um tiro no escuro", diz um farmacêutico que prefere não se identificar. "A gente vê chegar medicamentos que nem constam nos protocolos do Ministério da Saúde, mas temos que dispensar porque tem ordem judicial."

Os Números que Assustam

  • Apenas em 2024, mais de 1.200 liminares obrigaram a distribuição de remédios não aprovados
  • O gasto com esses medicamentos ultrapassou R$ 300 milhões só neste ano
  • Casos de reações adversas graves aumentaram 47% nos últimos 12 meses

E o pior: muitos desses remédios nem sequer têm estudos conclusivos sobre sua eficácia. É a ciência sendo colocada de escanteio por decisões que, muitas vezes, são tomadas sem o devido embasamento técnico.

Entre a Cruz e a Espada

Os juízes, claro, não são vilões de história em quadrinhos. Muitos agem movidos pela compaixão diante de casos dramáticos. O problema é quando a emoção fala mais alto que a evidência científica.

"Temos que lembrar que direito à saúde não é direito a qualquer tratamento, mas sim a tratamentos comprovadamente eficazes", argumenta uma pesquisadora da Fiocruz, que pede para não ser identificada. "Senão vira uma loteria perigosa."

E não é exagero. Já houve casos de pacientes que abandonaram terapias comprovadas para seguir "tratamentos milagrosos" - com resultados trágicos.

Quem Paga o Patê?

  1. O SUS, já asfixiado por falta de verba, gasta milhões com medicamentos questionáveis
  2. Pacientes ficam sem acesso a remédios essenciais porque a verba foi desviada
  3. A credibilidade da medicina fica abalada quando tratamentos sem comprovação são "oficializados"

É um daqueles casos em que todo mundo sai perdendo - menos, claro, as indústrias farmacêuticas que lucram com essa bagunça.

Tem Solução?

Especialistas apontam caminhos, mas nenhum é simples. Criar varas especializadas em saúde, com juízes capacitados na área, seria um começo. Outra ideia é exigir laudos técnicos independentes antes de conceder liminares.

Enquanto isso, o cidadão comum fica nesse cabo de guerra entre a esperança e o bom senso. Porque no fim das contas, saúde não é jogo de azar - ou pelo menos não deveria ser.