Um caso de suposta negligência médica transformou o dia esperado do nascimento em uma tragédia para um casal em Gurupi, Tocantins. Beatriz Lopes de Sousa, de 28 anos, e Lucas Maurício Gomes, de 30, perderam o filho que estava a poucos dias de nascer, após uma demora na realização de uma cesariana no Hospital Regional de Gurupi. O pai do bebê foi preso após um ato de desespero.
A sequência de eventos que levou à tragédia
Beatriz chegou à unidade de saúde por volta das 3h da manhã do dia 10 de dezembro, com fortes dores e vômitos. Apesar dos sintomas, ela afirma que foi orientada a voltar para casa, sem receber internação. A dor, no entanto, só aumentou. "Retornei ao hospital às 3h40", relatou a mãe.
Após nova triagem, um exame para ouvir os batimentos cardíacos do bebê foi feito. De acordo com Beatriz, a médica de plantão comentou que o coração do bebê estava "oprimido", mas, como estava no fim de seu turno, passou o caso para outra profissional. A gestante, que já tinha um histórico de complicações em parto anterior, insistiu e pediu a realização de uma cesariana, mas ouviu que não havia necessidade.
Desespero, perda e prisão
Com o agravamento do estado clínico de Beatriz e a queda dos batimentos do bebê, a situação ficou crítica. O prontuário médico acessado pela reportagem confirma que, ao nascer, o bebê de 39 semanas não apresentava sinais de batimentos cardíacos ou respiração. A equipe tentou reanimá-lo por cinquenta minutos, sem sucesso.
Enquanto isso, Lucas Maurício, o pai, foi chamado ao hospital. Nervoso e desesperado, seu comportamento teria motivado a equipe a acionar a polícia. Ao receber uma ligação da irmã informando sobre a morte do filho, Lucas, em um ato de descontrole, quebrou o vidro de uma janela com um capacete. "Quando minha irmã ligou falando que o neném tinha falecido, corri para o local já alterado", contou.
O ato resultou em sua prisão em flagrante por duas viaturas que já estavam no local. "Perdi meu filho e ainda fui preso. Tive que pagar fiança de R$ 720 para sair", lamentou Lucas, que ainda pode responder judicialmente pelo dano ao patrimônio público.
Investigações em andamento e busca por respostas
O casal registrou um boletim de ocorrência contra a médica no dia 11 de dezembro. Beatriz acusa a profissional de ignorar seu histórico e só ter optado pela cesárea quando os batimentos cardíacos do bebê já haviam cessado. "Ela viu que o coração do neném já tinha parado. Aí, foi a hora que ela falou que... iria fazer essa cesariana em mim, depois que ele já estava morto", desabafou a mãe.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que um inquérito policial foi instaurado na 86ª Delegacia de Polícia de Gurupi para apurar as circunstâncias da morte do recém-nascido, mas que o caso está sob sigilo. Tanto a Secretaria de Saúde do Estado (SES) quanto o Conselho Regional de Medicina (CRM) foram questionados sobre o ocorrido, mas não se manifestaram até o fechamento desta reportagem.
A tragédia expõe questões graves sobre protocolos de atendimento em saúde pública e deixa uma família em luto, em busca de justiça pela perda irreparável.