
Imagine colocar os pés na estrada por 110 quilômetros. Agora imagine fazer isso depois de vencer uma batalha contra o câncer. É exatamente essa a jornada que um grupo extraordinário está realizando neste momento.
E não são apenas ex-pacientes. Os médicos que os trataram caminham lado a lado, numa demonstração de solidariedade que vai muito além do consultório.
Mais que uma caminhada, uma celebração da vida
A estrada que liga São Carlos a Aparecida do Norte nunca testemunhou algo tão profundamente humano. São 45 pessoas - algumas ainda com as marcas visíveis do tratamento, outras com cicatrizes que só quem lutou contra a doença conhece.
"Quando recebi o diagnóstico, achei que nunca mais faria algo assim", confessa uma das participantes, com os olhos marejados. "Cada passo é uma vitória."
Os anjos de jaleco
O que realmente emociona é ver os profissionais de saúde trocando temporariamente seus estetoscópios por tênis de caminhada. Eles que normalmente acompanham a jornada dos pacientes de forma técnica, agora compartilham cada calo, cada dor muscular, cada nascer do sol na estrada.
"Na sala de quimioterapia, somos curadores. Aqui, somos companheiros de jornada", reflete um oncologista enquanto ajusta a mochila.
Fé que move montanhas... e pernas cansadas
A peregrinação, batizada de "Caminhos da Cura", começou na terça-feira e deve chegar ao seu destino final no sábado. Quatro dias de convivência intensa, onde histórias de dor e esperança se entrelaçam a cada curva da estrada.
"Às vezes a gente para não por causa do cansaço, mas porque alguém começa a contar sua história e todos paramos para ouvir", compartilha uma enfermeira.
O peso simbólico da jornada
Não é apenas uma caminhada religiosa - embora a fé seja o motor principal. É uma metáfora poderosa do próprio tratamento contra o câncer: passo a passo, dia após dia, sem saber exatamente quando vai acabar, mas confiando que o destino final vale todo o esforço.
As bolhas nos pés? Pequenas diante das feridas deixadas pela doença. O cansaço? Nada comparado à exaustão da quimioterapia.
Um encontro consigo mesmo
O que me impressiona é como essa jornada física se transforma numa jornada interior. Muitos participantes dizem estar "refazendo" simbolicamente o caminho percorrido durante o tratamento - mas desta vez, no seu próprio ritmo, rodeados por quem entende verdadeiramente o que significou cada etapa.
"Na enfermaria, éramos pacientes. Aqui, somos peregrinos", define um homem que venceu um linfoma.
E assim seguem, deixando para trás não apenas os quilômetros, mas também lembranças dolorosas. Cada passo, um agradecimento. Cada suor, uma oração. Cada dor muscular, um lembrete de que estão vivos - e que a vida, com todas suas dificuldades, vale cada esforço.
Agora me diz: não dá vontade de torcer por cada um desses guerreiros?