
Imagine uma cirurgia que parece saída de um filme de ficção científica. Não estamos falando de trocar um órgão só, mas sim vários de uma vez. É isso mesmo — coração, fígado, pâncreas, intestino, tudo numa operação só. Parece coisa de outro mundo, não parece?
Pois é exatamente isso que o transplante multivisceral representa: o limite extremo do que a medicina consegue fazer hoje. E olha, não é para qualquer um — estamos falando do procedimento mais arriscado que existe.
Quando a vida depende de uma aposta radical
Sabe aquela situação onde tudo que poderia dar errado já deu? É mais ou menos assim que os pacientes chegam nesse ponto. A maioria são crianças — sim, crianças — com doenças raras que destroem vários órgãos ao mesmo tempo. A síndrome do intestino curto é uma dessas vilãs, mas tem também tumores que se espalham feito praga.
O dr. Tannuri, um dos poucos especialistas nisso no Brasil, explica com uma franqueza que chega a doer: "É a última alternativa quando não existe mais nenhuma outra saída". E ele não está exagerando.
Por que tanto risco?
Vamos aos detalhes que fazem qualquer cirurgião suar frio:
- O corpo praticamente para de funcionar durante a operação — e convenhamos, tirar e colocar órgãos vitais não é como trocar peças de carro
- O sistema imunológico entra em guerra contra os novos órgãos, exigindo medicamentos que são um mal necessário
- Infecções aproveitam qualquer brecha — e com tantos pontos de entrada, as brechas são muitas
- O tempo é um inimigo cruel — quanto mais demora, pior fica
E tem mais: o pós-operatório é uma montanha-russa emocional que pode durar meses. Os primeiros dias são decisivos — é quando o corpo decide se aceita ou rejeita a ajuda que recebeu.
O milagre que poucos testemunham
Mas por que então fazer algo tão perigoso? Ah, essa resposta é simples: porque funciona. Quando dá certo — e às vezes dá — é como ver alguém renascer. Crianças que não conseguiam comer há anos voltam à vida normal. Pessoas condenadas ganham uma segunda chance.
O Hospital das Clínicas de São Paulo é um dos poucos lugares no país que enfrenta esse desafio. Eles não fazem muitos — são seletivos até dizer chega — mas cada caso é uma batalha épica.
O que mais impressiona? A resiliência do corpo humano. Ver alguém sobreviver a isso é testemunhar o que há de mais avançado na medicina — e o que há de mais forte no espírito humano.
No fim, o transplante multivisceral não é só sobre trocar órgãos. É sobre até onde estamos dispostos a ir por uma vida. E, convenhamos, às vezes ir até o limite é a única opção que resta.