
O coração pesa hoje na comunidade médica brasileira. Luiz Henrique Perillo, aquele homem de 42 anos que entrou para os anais da medicina nacional, nos deixou. Era terça-feira, 30 de setembro, quando sua batalha épica chegou ao fim no Hospital das Clínicas de São Paulo.
Lembram-se dele? Fez história ano passado ao receber cinco órgãos vitais de um mesmo doador - fígado, pâncreas e ambos os rins e pulmões. Um feito que parecia saído de roteiro de filme, mas era pura realidade brasileira.
Uma jornada além do comum
O que pouca gente sabe é que Perillo enfrentava desde os 18 anos uma doença raríssima, a esclerose sistêmica. Essa condição, sabe como é, vai endurecendo tecidos e órgãos como se fossem virando pedra. Nos últimos tempos, ele praticamente vivia ligado a máquinas - oxigênio 24 horas por dia, diálise regular... Uma vida que mal podia ser chamada de vida.
Mas eis que surge uma esperança quase milagrosa: a possibilidade de receber todos esses órgãos de uma única pessoa. O timing era apertadíssimo, uma verdadeira corrida contra o relógio. Cinco equipes cirúrgicas trabalhando em sincronia, num balé médico que durou mais de 15 horas.
O pós-operatório e suas complexidades
A recuperação, claro, foi um caminho cheio de altos e baixos. Nos primeiros meses, a coisa parecia que ia bem - os órgãos novos funcionando, o corpo aceitando os visitantes. Mas essas cirurgias múltiplas... são como andar na corda bamba sem rede.
Nos últimos dois meses, as complicações se acumularam. Infecções, rejeições, uma coisa puxando a outra. A equipe médica lutou com unhas e dentes, mas às vezes o corpo humano simplesmente diz "chega".
O que fica dessa história toda? Primeiro, a coragem absurda de um homem que encarou o impossível. Segundo, o avanço da medicina brasileira - estamos falando de um dos poucos casos do tipo no mundo todo. E terceiro, aquela lição que nunca canso de repetir: a doação de órgãos transforma vidas, mesmo quando a história não tem o final feliz que gostaríamos.
O legado de Perillo vai além dele mesmo. Sua jornada abriu portas, mostrou caminhos, deu esperança para outros na mesma situação. Às vezes a vitória não está em vencer, mas em ter a coragem de lutar.