Enfermeiras demitidas após foto em acidente fatal na Paraíba
Servidoras demitidas por foto em acidente com vítima fatal

Duas servidoras públicas que atuavam como enfermeiras na cidade de Jacaraú, no Litoral Norte da Paraíba, foram demitidas sumariamente após um episódio considerado grave pela administração municipal. O fato ocorreu após as profissionais tirarem uma foto durante o atendimento às vítimas de um acidente de trânsito com morte, na terça-feira, 16 de abril.

Os detalhes do ocorrido e a demissão

De acordo com informações da diretora da Unidade de Saúde Dara Ribeiro, Simone Teixeira, as duas enfermeiras estavam de plantão na unidade e foram acionadas para prestar socorro no local de uma colisão entre uma moto e um carro, em uma rodovia próxima à cidade. O acidente resultou em uma pessoa morta e outra ferida.

Durante a espera pela chegada da Polícia Militar ao local, as servidoras tiraram uma fotografia. A imagem, posteriormente, foi divulgada em um grupo de mensagens por outro funcionário da prefeitura, sem o consentimento delas. O autor da divulgação teria alegado que a foto era para "arquivos internos".

Um dia após o incidente, na quarta-feira, 17 de abril, a Prefeitura de Jacaraú anunciou a demissão das duas mulheres. Em nota publicada nas redes sociais, a administração municipal afirmou não compactuar com condutas que contrariem os princípios da ética profissional, do respeito e do cuidado humanizado no serviço público.

A defesa das profissionais e a posição do Conselho

O advogado das ex-servidoras, Flauberthy Almeida, entrou em contato com a reportagem para apresentar a versão da defesa. Ele argumentou que a foto "foi realizada sem exposição de pacientes e sem prejuízo ao atendimento".

Além disso, o defensor criticou o processo de demissão, afirmando que as profissionais foram "expostas, julgadas e punidas publicamente, sem instauração formal de procedimento administrativo, sem contraditório e ampla defesa". Ele também ressaltou que a atribuição de uma infração ética é, por lei, competência exclusiva do Conselho Regional de Enfermagem (Coren). Medidas jurídicas já estariam sendo adotadas para reverter a situação.

Em nota divulgada na sexta-feira, 19 de abril, o Conselho Regional de Enfermagem da Paraíba (Coren-PB) informou que não recebeu nenhuma comunicação oficial sobre o caso. O órgão destacou a necessidade de apurar se houve, de fato, uma falha na assistência prestada, o que exigiria um processo administrativo próprio.

O Coren-PB questionou a proporcionalidade da punição, ponderando: "é necessário verificar se há, no estatuto do servidor, qualquer previsão expressa que proíba o suposto ato praticado... diante disso, entende-se que a demissão aplicada não se mostra razoável, tampouco proporcional aos fatos apresentados".

Reflexões sobre ética e processo legal

O caso levanta debates importantes sobre vários aspectos:

  • Ética no serviço público: O limite entre um registro informal e uma falta grave de humanização no atendimento.
  • Devido processo legal: A necessidade de um processo administrativo disciplinar que garanta o direito à defesa dos servidores.
  • Competência para punir: A discussão sobre se a demissão por um suposto erro ético deveria partir do empregador (prefeitura) ou do órgão de classe (Coren).
  • Exposição nas redes: O papel da divulgação não autorizada da imagem em grupos de mensagens no agravamento das consequências.

O desfecho judicial do caso ainda é aguardado, enquanto as duas ex-enfermeiras buscam reverter suas demissões na Justiça.